quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Como é bom comer bollycao

Tanto projecto literário que há para aí e a maior parte nem fala de assuntos interessantes, não ajudando o comum cidadão a solucionar os seus problemas do dia-a-dia. Devido a essa enorme falta de noção do mundo real da maior parte dos indivíduos que produzem textos, eu imponho-me e vou analisar e colocar como objecto de estudo um dos melhores alimentos jamais fabricados em série e com tão agradável sabor, proporcionando-nos momentos mágicos ao ponto de fecharmos os olhos aquando da sua ingestão. Claro que com o que já referi, todos sabem certamente de que se trata, porque é tão único, tão espetacularmente aconchegador do estomâgo que é, de facto, um escandâlo se alguém não o conhecer. É o bollycao.


É simplesmente excelente. Mas só o é para quem realmente o conhece, para quem já teve a sós com ele em diversos momentos, na cozinha, na rua, no quarto em frente ao computador, no autocarro, no metro, na escola, a atravessar a passadeira, e já lhe conhece as manhas todas. Não é qualquer um que entra num Pingo Doce ou num Continente e vai à prateleira dos bollycaos retirar a obra prima daquela espaço. É que também existem bollycaos com algumas particularidades, um pouco como a raça humana, que de vez em quando fabrica um ser humano com uma perna maior que a outra, ou com as costas tortas. Os bollycaos também são assim, uns carecem de algumas coisas e nem todos se podem dar ao luxo de aparecer nos anúncios nem nas imagens dos pacotes dos próprios bollycaos.


Conselhos a seguir quando está na hora daquele belo manjar que é o melhor bollycao:


Saliento já, que o melhor bollycao é aquele cujo chocolate não está demasiadamente denso ao ponto de deixar alguns pontos desprovidos do mesmo, aquele cujo chocolate está em proporções de igual valor de uma ponta a outra do bollycao transversalmente, e em que longitudinalmente possui chocolate à segunda dentada a contar do princípio. Colocam agora a seguinte questão: Como saber qual o início e o fim do bollycao? Muito simples, o fim está assinalado com um pequeno furo mesmo no plano mediano, com aproximadamente 1,5 gramas de chocolate no seu interior.
Passando aos conselhos concretos:

- Nunca se deve começar pelo fim do bollycao! Princípio sempre ou têm uma desagradável surpresa. Começar pelo fim dá aquele gostinho enganador dos 1,5 graminhas de chocolate porque a seguir vêm aproximadamente 1,5 dentadas apenas de pão, rebaixando-nos as expectativas e fazendo com que muitos utilizadores do bollycao o deitem para o lixo absolutamente frustrados.


- Comer o bollycao com o plástico posto, apenas de forma a não tocar na delícia com as imundas mãos. As mãos são um factor de desvalorização do bollycao. Está economicamente provado que um bollycao aberto tocado com as mãos desvaloriza 85% em relação a um bollycao apenas aberto, porém, imaculado.


- Nunca terminar o bollycao com uma dentada longitudinal, apanhando apenas o pão e os 1,5 gramas de chocolate. Uma bela refeição tem de acabar na perfeição. É a mesma coisa que comer uma bela iguaria num restaurante de luxo e para sobremesa ir à tasca do zé comer o pudim flan que provavelmente já levou com uma escarreta na cozinha porque o manel tava com expectoração. O bollycao tem de ser finalizado da melhor maneira e por isso, quando este estiver no fim, deve-se proceder a dentadas transversais para que o chocolate se conserve para o momento em que se termina a refeição. A última dentada deve ser feita diagonalmente, a partir do canto inferior esquerdo do bollycao, para quem está a olhar de frente para ele, com a face não abobadada voltada para si, e o princípio voltado para cima.


Mas para apanhar o melhor bollycao, há que saber analisar qual adquirir. E deixo-vos aqui algumas premissas extremamente importantes para a escolha adequada deste alimento:


1ª premissa: Os bollycaos do Pingo Doce são melhores do que os do Modelo ou Continente, ou qualquer outro supermercado.

É um facto, acreditem. A mim é a minha experiência pessoal que me fornece esta informação bastante útil. Eu já efectuei uma estatítisca mental do produto e concluí isto mesmo. Dos 50 568 bollycaos que já comi, 50 567 eram realmente bons e eram provenientes de um supermercado Pingo Doce. O outro era do Continente mas suspeito que o roubaram ao Pingo Doce. Se quiserem podem experimentar por vocês mesmos, mas certamente irão chegar à mesma inevitável conclusão.


2ª premissa: Os bollycaos dos packs de 4 são muito piores que os que vêm em pacotes individuais.

Outra premissa de extrema importância e completamente verdadeira. Qualquer indivíduo comum que queira comprar bollycaos em grande quantidade pensa certamente na vantagem que um pack de 4 impõe à primeira vista. E é claro, é mais barato que comprar 4 pacotes singulares e ainda por cima, vem com um plástico adicional que cobre os 4 simultaneamente, o que é sempre engraçado para quem gosta de abrir pacotes de plástico a rebentar, é mais um.

Possuo alguns dados inclusivamente de preços comparativos entre as duas opções. Comprar um pack de 4 no pingo doce fica a 2,99€ enquanto que 4 individuais ficam por uns meros 17 cêntimos a mais. Para mim os 17 cêntimos ficam de imediato amortizados aquando da primeira dentada na parte achocolatada do primeiro bollycao em pacote singular. A diferença de prazer é muito maior quando comparado com a diferença de preços. Não há volta a dar.


3ª premissa: Abrir o pacote a rebentá-lo faz com que o bollycao fique semelhante a um bollycao do modelo.

Uma importante premissa para todo o ser humano abaixo de 10 anos. Era muito usual realizar-se isto no primeiro ciclo. Estraga toda a magnífica essência do que é o alimento divino. A força que se faz para rebentar o pacote causa um efeito de compressão interna deste, e consequentemente o bollycao também é comprimido, amassando o pão e levando o chocolate a dispersar-se. Isto leva a uma fraca proporção ‘chocolate-comprimento do pão exterior’ e a uma menor densidade de chocolate na parte de maior prazer, diminuindo a intensidade do clímax.


4ª premissa: Os bollycaos rijos são piores que os mais molinhos.

Bollycaos rijos são horríveis. O seu pão é de fraca qualidade e o chocolate está seco, não permitindo a criação de fios de chocolate que muitas vezes nos bons bollycaos nos descaem para os lábios e horas depois de terminarmos o alimento, ainda nos podemos lamber e sentir um último sabor de chocolate bastante agradável. Muitas vezes os rijos estão fora do prazo de validade.


5ª premissa:
Bollycaos mais claros na zona intermédia e bollycaos cujos contraste de cor não sejam muito acentuados (sendo que se tratam de cores claras em tons de laranja quase esvaído no meio).

Tem uma relação especial com a 4ª premissa porque geralmente bollycaos rijos são escuros, mas nem sempre. A cor está relacionada sobretudo com a qualidade do pão, nada a ver com o chocolate. Há muita malta aí a falar na televisão a dizer: “Ah o bollycao escuro afecta o chocolate”. Epá nada disso, única e exclusivamente pão. Bollycaos escuros são bollycaos cujo pão está mais tostado/queimado e isso é extremamente desagradável quando se trata de um pão fofo. Na primeira abordagem ao bollycao pela frente, se este estiver escuro, experimentamos uma das sensações mais horríveis de sempre, tomando aquele gostinho de pão fofo a saber a tosta que caiu num líquido e amoleceu, e depois secou, mas ainda assim conseguiu fazer a transição para a fofura, contudo nojenta. Pão claro é dos pães que é de chorar. Literalmente. Até nos cai uma lágrima ao provar tão saboroso pão, preparando-nos para o excitante sabor a chocolate que virá a seguir.


6ª premissa: Pacotes de bollycao que tenham muito chocolate no plástico envolvente são para esquecer.

Quando encontrarem bollycaos cujo pacote tenha chocolate no seu interior em quantidades médias ou altas, não o levem. Muitas vezes isto significa que o bollycao não foi confeccionado com o melhor carinho e foi brutalmente feito para despachar, fazendo com que o seu gostinho não seja tão especial devido ao descuido na atribuição do chocolate e até se pode sentir um pouco de desprezo no pão, uma vez que este também foi, provavelmente, alvo de falta de ternura na fábrica de confecção dos bollycaos.


7ª premissa:
Bollycaos que estejam fora do sítio destinado a eles, provavelmente são maus.

Bollycaos fora do sítio é muito mau sinal. Sinal de que foi abandonado devido a uma rejeição forte de um cliente. Este deve ter sentido que não seria o bollycao ideal para o aconchego do seu estomâgo, e optou por levar outro. Mas só significa que é mau se for um perito nesta matéria a abandoná-lo, se for um cidadão comum não podemos retirar qualquer conclusão, por isso convém observar primeiro.


8ª premissa:
Bollycaos situados num supermercado numa zona com muitos peritos em bollycaos não são tão bons.

É a razão de muitos apreciadores (e ao mesmo tempo peritos) de bollycaos serem nómadas. Zonas com uma densidade populacional grande em termos de peritos faz com que os bollycaos de um supermercado nessa zona sejam apalpados diversas vezes ao dia. Porque a ciência da melhor escolha está na visão mas sobretudo no tacto. E tantas mãos a apalpar causam o amassamento do produto, fazendo com que este perca o seu valor inicial.


9ª premissa: Todos os produtos bollycao que não sejam o original no pacotinho vermelho são uma treta.

Bollycao caramelo, pão de leite, balance, pontas, mini, croissants, manhãzitos são todos uma grandessissíma treta. Todos tentativas de inovação do original, o bollycao clássico, mas os produtores não se aperceberam da besta que criaram porque não há NADA que supere o clássico. A sua concepção foi perfeita e jamais encontrarão rival à altura.



Sigam estes conselhos e podem-me agradecer por ter-vos feito poupar cerca de menos de 1€ num bollycao que não estava nas melhores condições.