sábado, 26 de junho de 2010

Não é CR9, é CRK, de Ketchup

Já escutei frases interessantes de diversos indivíduos que contribuíram para a mudança da humanidade. Já escutei pensamentos deveras profundos dos mais variados filósofos, desde os tempos antigos até hoje. Já escutei e li figuras de estilo plenas de beleza e estilo dos mais conceituados escritores. Agora, o que eu nunca havia escutado era, de facto, uma comparação vinda de um jogador de futebol. Para além de ter a vantagem de enriquecer o discurso, dá também azo a uma intensa galhofa à primeira vista. Pois é, o Cristiano Ronaldo usou mesmo uma:
- Os golos é como o ketchup, quando aparece, aparece tudo de uma vez.
Mas, de facto, eu pronunciei “à primeira vista” porque à segunda e após uma análise profunda desta afirmação conseguimos chegar ao núcleo de toda a verdade. Uma pessoa vulgar diria:
- Epá este cristiano é mesmo estúpido, nem sabe fazer uma concordância em número. Os golos é? Mas o que é isto?
Agora, o que estes indivíduos vulgares não sabem é que isto é mais um figura de estilo utilizada pelo ronaldo. Uma figura de estilo extremamente rara e só os mais conceituados seres conseguem detectar esta obra de arte em forma de palavras. Digo-vos já que este belo excerto da frase contém uma antítese cerebral, uma das figuras de estilo mais raras do planeta, quase em extinção (se não fosse o ronaldo já se tinha extinguido certamente). Nem eu a soube detectar, tive de recorrer a um especialista em antíteses cerebrais para ter a certeza que era mesmo uma.
Ora bom, esta antítese de cariz muito especial é o contraste entre o cérebro do orador ou escritor e o que diz ou o que escreve. Neste caso, o cérebro de ronaldo é muito avançado para as palavras que proferiu, que discordaram escandalosamente em número. Portanto quem se riu com esta aparente estupidez que no fundo é uma grandiosa figura de estilo, é parvo. É que além desta, cristiano ainda consegue encaixar uma comparação na mesma frase. O ronaldo passou por estúpido devido à ignorância das pessoas. E foi gozado à força toda por alguns em casa que, a ver o vídeo destas declarações, se partiram a rir sempre que ele pronunciava esta frase. Quando conseguirem colocar duas figuras de estilo numa frase com menos de 15 palavras podem dizer o que quiserem, mas até lá, escondam-se no vosso buraquito miserável de ignorância brutesca.
Agora que já reflectimos sobre esta maravilhosa discordância em número, podemos partir para a segunda parte da frase, que é a comparação dos golos ao ketchup. A partir daqui tudo o que estiver aqui escrito não sou eu que escrevo, porque admiro o cristiano cegamente e nunca me atreveria a libertar palavras de ofensa a ele, é um indivíduo imaginário que gosta de refilar com os jogadores de futebol ricos e famosos e que ele acha que são burros:
Espera... deixa-me reflectir sobre esta comparação... só mais um pouco... ... ... O QUÊ?!!!! MAS QUE RAIO DE KETCHUP É QUE O CRISTIANO ANDA A USAR?!! Só pode ser um ketchup que eu não estou a ver. Mas não pode. É possível que seja daqueles que vêm em inovadores recipientes, e que é só apertar e o ketchup é removido de uma forma excelentemente bem doseada. Espera... Ronaldo... não acredito... não me digas que não sabes que quando páras de apertar o recipiente, o ketchup pára de aparecer, é preciso é parar, portanto não é como os golos. Porém não estou a ver o ronaldo a possuir um desconhecimento nesta matéria porque é uma mera questão de observação, penso que até um ser com não mais de 3 anos consiga perceber isso, apesar de provavelmente querer continuar a apertar porque é giro e porque sai muito ketchup. Bem, talvez seja o que aconteça com o cristiano... mas isso não revela a maturidade de um indivíduo com mais de 20 anos, porque se ele tivesse esta mentalidade também nunca passaria a bola em campo porque é giro fazer dribles e jogadas individuais...
- Não, desculpa lá, ele agora anda a passar em quantidades mais aceitáveis, e sabe utilizar esse ketchup perfeitamente – intervenho eu, cego defensor do famoso CR9.
Então, excluo a hipótese deste ketchup, passemos ao próximo, que é aquele que nos dão quando nos dirigimos a um McDonalds ou outro restaurante fino e de comida saudável em que os empregados, extremamente bem vestidos e sem bonés na cabeça, servem à mesa todos os clientes com natural satisfação.
Este tipo de ketchup encontra-se em pacotes algo pequenos. Pode ser o que o cristiano usa, mas não vejo como é que ele aparece todo de uma vez. Só se não encontrarmos o sítio de abertura e espremermos aquilo mesmo à parva, rebentando com o pacote e colocando molho vermelho a voar por todos os lados. Mas ó ronaldo, há um picotado num dos cantos do ketchup e que diz “abrir aqui”, primeiro abre por aí, ok? Depois é mais ou menos semelhante ao outro, também tens de apertar um pouco e parar quando não queres meter mais molho.
- Ele também sabe utilizar esse, e sabe que é para abrir pelo picotado, que parvoíce pá... – intervenho pela 2ª vez, defendendo a honra do melhor jogador de todos os tempos.
Passo então ao último ketchup, aquele mais antigo e já ninguém usa porque dá muito mais trabalho que esses recipientes modernos. Isto porquê? Porque este não é só apertar e está feito, não senhor, este aqui um indivíduo tem de remover manualmente mesmo. Como é o cristiano, eu calculo que ele se meta aos pancadões na base do frasco, virado ao contrário, para retirar o ketchup, mas como quase que pratica pugilismo com o recipiente, o ketchup acaba por sair logo todo de uma vez. Mas eu vou-te explicar, há um instrumento muito útil que surgiu no tempo da Roma antiga, portanto já há quem domine a sua arte e podes pedir conselhos aos mais sábios. É a colher. Pois, e dá mesmo para retirar uma dose moderada com ela.
- Mas o Cristiano não utiliza desse, e sabe utilizar uma colher! – 3ª intervenção da minha parte.
Então a minha opinião sobre a acefalia do Cristiano Ronaldo permanece. Dou-te a oportunidade de iniciares a tua reflexão sobre esta comparação que me parece totalmente descabida e sem um pingo de raciocínio lógico:
Bem, só quem conhece o Cristiano Ronaldo e sabe que tipo de ketchup é que ele utiliza é que compreende o verdadeiro significado desta comparação. É um ketchup muito especial em pequeníssimos pacotes, qual quantidade e requinte francês. Estes estão sob pressão e portanto quando o ronaldo os abre, o delicioso molho vem logo todo de uma vez. Contudo, relembro que é em pequenas doses e portanto ele acerta sempre com a quantidade que quer colocar. E não é andar para aí a dizer que o Ronaldo é estúpido e que não abre a tampa do ketchup e aperta com força demais e rebenta com o recipiente! É simplesmente isto, ele pensou que nós também utilizássemos desses pacotes que ele tem.
Ou seja, a comparação que o Ronaldo colocou naquela frase, é uma das mais das mais belas e conseguidas comparações de sempre, acredito que daria um excelente escritor, muito acima de Eça de Queirós ou Saramago. Se publicasse todas as obras que ele tem lá no seu baú na Madeira iria ganhar o nobel com certeza. Mas quando ele falecer deve ser tudo publicado por isso não se preocupem.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Fernando Pessoa

Bem, como amanhã é exame de português e tal, deixo aqui um texto que serve de orientação para o estudo dos heterónimos de Fernando Pessoa.
Desculpem só meter isto na véspera, aposto que se vissem antes teriam 20 no exame (se saísse só Fernando Pessoa claro), mas pode ficar para a 2ª fase.
É deveras extenso, eu sei, mas já me disseram que está giro...
- Eh, tamos de férias ó palhaço, já não queremos ouvir falar do Pessoa, aposto que tinha 0 no exame na mesma se lesse esse texto!!
Epá eu sei, não leiam então.




Fernando Pessoa acabara de acordar para mais um fantástico dia para a criação poética. Saiu da cama a uma hora bem madrugadora, preparou-se para sair e dirigiu-se ao sótão da casa. Passando os estreitos corredores, chegou a uma porta bastante mal-tratada, e do outro lado dela estava a origem do ruído constante que assola as manhãs daquela casa. Pessoa abriu-a. A porta agora aberta mostrava um quarto apertado onde 3 figuras se encontravam e que pelos vistos costumavam passar ali as noites. 3 camas, um baú e uma secretária cheia de papéis e peças de maquinaria conseguiam ainda caber naquele cubículo.
-Oh Álvaro deixa-me dormir, pára lá de fazer barulho! – refilava Ricardo Reis.
- Mas que perfeitas engrenagens. Eia rodas dentadas! Que motor soberbo! Hup lá! Hup-lá!- gritava Álvaro de Campos com entusiasmo, observando a máquina que tinha na sua frente.
- Mas essa máquina nem sequer faz hup lá! Porque é que estás sempre a dizer hup lá? – perguntou Alberto Caeiro num tom agressivo da sua confortável cama.
- Eia eia eia hup lá hup lê eia eia eia hooooooo zzzzzzzzzzzz pum lô eia eia! – vociferava qual louco com insónias.
Fernando Pessoa, calmo e sereno, vendo a confusão naquele pequeno quarto, cheio de peças espalhadas pelo chão, apenas disse:
- Vamos embora, despachem-se.
-Eles também vêem? – inquiriu Ricardo Reis apontando para o pequeno baú no canto do quarto de onde provinham alguns barulhos estranhos.
-Não, eles hoje ficam, esses aguentam bem sem comer nem beber, são resistentes.
Enquanto todos se preparavam para sair de casa, Fernando Pessoa dirigiu-se à porta de saída esperando pacientemente por eles. Por fim chegaram, Alberto Caeiro na frente como sempre. Estavam todos vestidos de igual, de trajes pretos e camisas brancas, chapéus pretos. Fernando Pessoa começou a afastar-se da casa e guiava-os através das ruas ainda um pouco desertas. Este continuava calmo, assim como Ricardo Reis. Alberto Caeiro sempre a olhar freneticamente para tudo em constante espanto e Álvaro de Campos olhando para algumas peças da máquina que trazia consigo.
A meio do percurso avistaram o primeiro ser naquela manhã. Ia de encontro a Fernando Pessoa, provavelmente para falar com ele. Era Alfredo Guisado.
- Então Pessoa, como vai? – dirigia-se efusivamente a Fernando Pessoa.
- Você hoje vai falar com Álvaro de Campos – respondeu, não correspondendo à alegria de Guisado, empurrando ligeiramente Álvaro na direcção de Alfredo.
Fernando Pessoa seguiu caminho com os outros dois em direcção ao café. Finalmente chegado ao local olhou imediatamente para a única figura presente nas mesas do estabelecimento.
- Piário! Tu por aqui? Como vai isso? – disse levantando a mão para cumprimentá-lo.
A figura ergueu-se da sua cadeira e cumprimentou-o.
- É verdade, passei hoje por aqui, já não vinha há muito tempo, e a ti também não te via há muito! Mas parece que os nossos tempos de infância na África do Sul foram ontem – respondeu alegremente recordando tempos passados.
- Pois é, passava o tempo todo a escrever cartas para ti, mas pensavam que eu era maluco porque julgavam que não escrevia para ninguém. Muitas vezes perguntavam-me: Para quem são essas cartas? E eu apontava para ti, mas tu eras danado, escondias-te sempre, e eu ficava a apontar para o vazio. Tomavam-me por um indivíduo com distúrbios mentais! Mas era um pouco despistado, em vez de te tratar por Piário tratava-te por “Chevalier De Pas”, e tu assinavas com esse nome, aquela parvoíce infantil invadia-nos.
- Belos tempos... então e olha lá, hoje só trazes dois contigo? Como é que tu lhes chamas? Ah os teus heterónimos, onde é que estão os outros? – fez a pergunta olhando para Alberto e Ricardo a pedirem os seus cafés.
- O Álvaro ficou a falar com o Guisado, sabes como é que o Guisado é, está sempre a dar conversa. Os outros ficaram lá no baú.
- Ah pronto, só para saber... queres tomar um café nesta mesa?
- Não pode ser, tenho de me reunir aqui com as minhas companhias, temos de tratar de um assunto, já falamos, até logo – despediu-se e dirigiu-se à mesa onde Ricardo Reis e Alberto Caeiro já se encontravam a beber café e onde tinha também o seu à espera.
Atravessou o enorme estabelecimento deserto de tecto alto e sentou-se ao pé deles começando a beber o café enquanto falava.
- Temos um problema, temos de ter um poema feito hoje – afirmava preocupado.
- Um poema já hoje? Para quê? – Ricardo Reis também parecia preocupado agora.
- Saíram umas páginas a mais no Orpheu e temos de completá-las.
- Não, hoje não me vai sair nada, ainda nem li nada de Epicuro nem de Horácio hoje – Ricardo Reis ainda mais preocupado parecia.
- Hoje não posso, tenho de guardar os meus rebanhos de pensamentos dos ataques dos lobos, conheces alguém que me possa emprestar um cão pastor ou assim? Bem, no outro dia um lobo deu-me uma forte dentada num pensamento que tive há uma semana, nunca mais me lembrei dele, acho que faleceu... hum... porque não pedimos um poema ao Álvaro, ele consegue fazer 2 páginas em 5 minutos – sugeriu Alberto Caeiro.
- Então vamos lá ter com ele – concordou Fernando Pessoa.
Ao terminarem os cafés saíram despedindo-se mais uma vez de Piário e dirigiram-se ao local onde Alfredo Guisado e Álvaro de Campos foram deixados a falar. Contudo, já só encontraram Guisado e nem sinal de Álvaro.
- Alfredo, então o Álvaro, para onde foi? – interrogou-o Fernando Pessoa.
- Depois de falar comigo foi para ali – informou indicando a rua à sua direita.
- Ok obrigado – agradeceu enquanto se retirava do local para não estender mais a conversa.
Ficou pensativamente a olhar para a rua indicada quando de repente suspeitou:
- Foi para a fábrica quase de certeza, para casa não foi. Alberto, tu foste com ele à fábrica da última vez, leva-nos até lá.
- O que estou a ver, é aquilo que nunca antes tinha visto, sou qual receém-nascido que tem o pasmo essencial quando olha para o tudo desconhecido – disse Alberto Caeiro olhando em volta com aquela cara típica do seu pasmo característico.
- É incrível, Alberto tu não és minimamente sustentável, já chega dessas crises sensacionistas. Qualquer dia faleces, depois admiras-te. É que não és minimamente sustentável mesmo – a frustração era vísivel através da expressão de Fernando Pessoa.
- Eu sei o caminho, eu também fui com o Álvaro à fábrica no outro dia.
Ricardo Reis guiou-os através daquela manhã fresca até às portas das instalações fabris. Estas estavam entreabertas, forte sinal do louco futurista. Entraram os três para o amplo espaço da fábrica desocupada, cheia de máquinas e andares. No ar, ecoava a voz possessa de Álvaro de Campos. Estava a correr qual maníaco atleta levando diversas ferramentas e peças consigo, atirando-as ao ar e explorando cada máquina da fábrica com o entusiasmo de uma criança. Fernando Pessoa estava impaciente apesar de ainda nem serem 9 da manhã, e foi em direcção de Álvaro para o buscar.
- Hup-lá Hup-lá Hup-lô bzzzzzz eia eia eia brocas, eia rodas dentadas, eia máquinas rotativas! Hup-lá Hup-lá hup láaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! – gritava e fugia de Fernando Pessoa que via agora a aproximar-se.
No meio da correria intensa e atirando tudo o que tinha nas mãos ao ar, Álvaro de Campos efectuou mal as contas e brocas, rodas dentadas e máquinas rotativas caíram-lhe em cima, fazendo-o tombar de imediato. Havia terminado a euforia extrema.
- Futurista de um raio! – exclamou Fernando Pessoa quando finalmente chegou perto dele – Meu grande maníaco, precisamos de um poema para o Orpheu, levanta-te!
- Agora estou cansado, faz tu, não me apetece andar a escrever sobre as máquinas.
- Então faz sobre o teu estado decadente, cansado e abatido.
- Belo tema, poderá dar-me a inspiração necessária para fazer 2 páginas – afirmou enquanto se levantava.
Saíram da fábrica em direcção a casa porém, Ricardo Reis parecia relutante em ir:
- Vou ali aproveitar sossegadamente a vida para a beira do rio, o Alberto também vem comigo, preciso de não fazer nada tranquilamente acompanhado.
Enquanto Ricardo e Alberto mudavam o seu rumo, Fernando e Álvaro continuaram até casa e ainda a falar sobre a ideia de um poema de Álvaro para completar o Orpheu .
- Olha, sabes a quem é que podias dedicar o poema? Ao Piário. Vi-o no café quando estavas a falar com o Alfredo Guisado. Podias dedicar-lho, conhece-lo ainda melhor que eu, foram excelentes amigos – sugeriu Fernando Pessoa.
- O Piário? Ei que grandes amigos que fomos, passávamos a vida a montar máquinas e admirar a sua beleza, que grandes tempos...
- Podias meter no título: Ó Piário este é para ti! – interrompeu Fernando Pessoa.
- Não, isso é estúpido, é melhor meter só: Ó Piário.
- Ok mas faz esse poema como se não conhecesses o Alberto Caeiro, que ele anda um bocado parvo.
E passado pouco tempo de terem chegado à calma e ao trono de inspiração poética que era sua casa, Álvaro de Campos conseguiu mesmo fazer o tão famoso e belo poema do Opiário a tempo de preencher as folhas em branco do Orpheu.

sábado, 12 de junho de 2010

Maldita largura de margens














Epá este blogue faz com que os meus textos, que ocupam umas meras 1,5 - 2 páginas no word com calibri tamanho 11, pareçam testamentos do caraças.
É que, olhando para os textos e para a sua extensão em termos de comprimento, nem dá vontade de ler, e aposto que muita gente não lê por causa disso. É como dizerem:
- Eia lê este livro, é muita fixe!
- Ok eu leio! Ah mas pera, quantas páginas tem?
- 500.
- Esquece lá isso rapaz, vou mas é continuar a jogar COD e fazer uma directa para chegar a nível 50 eheh.
Mas tenho uma sugestão (não, não vou mudar o visual disto), olhem para a largura e motivem-se. É que é mesmo apertado. Deve dar uma média de menos 15 palavras por linha. No word são umas 20 por linha e parece muito mais pequeno.

Obrigado, está bem?

Agradecer é boa educação. E todo o comum mortal que fale a língua tão designada de lusa já agradeceu sob a forma de um “obrigado”. Mas provavelmente muito poucos sabem a origem desta palavra de agradecimento e dizem obrigado como podiam dizer frango assado. Claro que dizer frango assado seria assaz interessante na medida em que é um excelente cozinhado especialmente com uma bela e salgada guarnição de batatas fritas.
- Ah ajuda-me, estou quase a falecer... – pede, num estado inglório e numa situação bastante complicada.
- Ok, já está.
- Frago assado, muito frango assado.
Seria tão semelhante que se trataria apenas de uma questão de hábito para não ser olhada com face jocosa.
Mas obviamente que o agradecimento mais comum tem um significado e origem que fazem jus a um sentido extremo e esse obrigado é a abreviatura de um expressão cuja mensagem geral é: Obrigado a retribuir o favor.
Isto leva-nos ao real sentido do agradecimento, em que a pessoa que é amavelmente ajudada por outra é obrigada a retribuir essa ajuda se disser obrigado. Ora, claro que pode fazer sentido porque quando alguém nos faz um favor é bonito nós também ajudarmos se o mesmo indivíduo precisar.
Porém, há limites mínimos de moralidade. Perante a questão: Devemos retribuir com um favor do mesmo tipo ou não é preciso? Eu respondo:
À vista desarmada provavelmente dirão que não é preciso. Então imaginemos a seguinte situação:
Um ser humano realiza um salvamento de risco extremamente elevado acabando mesmo com sucesso, resguardando o seu companheiro, de mesma e tão egoísta espécie, de um precipício de profundidade infinita, levando a uma morte desagradável por asfixia ou, se forem resistentes, a uma morte à sede ou à fome. E o corpo putrefacto continuaria a cair para sempre, nem dando para efectuar um funeral. Como é que este, que quase morreu, iria retribuir partindo do princípio que responderia obrigado?
Auxiliando-o nos trabalhos de casa de matemática. É justo. Até porque se o outro chumbar a matemática fica com negativas suficientes para ter de repetir o ano, e perde um ano de vida a estudar para ter de o fazer de novo, ficando frustrado devido a isso, chumbando outra vez por estar demasiado frustrado até que já tem 40 e tal anos e apercebe-se que ainda não acabou o 6º ano, acabando por morrer debaixo da ponte.
Portanto, para um grande favor temos de devolver um grande favor, senão somos imorais e más pessoas.
Contudo, isto tudo encaminha-nos para uma faceta interessante do Obrigado, que é a do egoísmo psicológico. Acabamos por efectuar boas acções só para que o outro faça o mesmo. Sim, porque quando fazemos algo por alguém e o nosso órgão auditivo não detecta imediatamente uma vibração do ar que forme a palavra Obrigado, ficamos ainda expectantes para que o sentido do favor se complete e se passar um tão longo tempo em que já é uma falta de noção dizê-la, atiramos:
- Então e um obrigado não?
No fundo estamos a obrigar a obrigá-lo a fazer uma coisa do nosso agrado no futuro, apenas porque nós também o fizemos. Em seguida, o indivíduo, de facto, retribui e obriga-nos a esboçar um obrigado. E a partir daqui é infinito, é uma cadeia que se estende para além do que é imaginável, e claro, da vida humana. Ou seja, a última pessoa que tiver agradecido e não tiver retribuído antes de falecer é um falso. A não ser que a palavra não valha nada para esse ser. Que saudade dos tempos medievais, não pelas guerras corpo a corpo a torto e a direito, levando a cabeças jorrantes e mortes fascinantes ao vivo, mas sim pelo valor que a palavra de alguém tomava nestes tempos, em que quem dava a sua palavra era uma pessoa claramente verdadeira e honesta.
Mas, apesar desta reflexão profunda acerca do obrigado, apercebo-me que para muitos isto não faz sentido porque nem sequer sabem conjugar o género da palavra.
Supostamente existem duas formas, obrigado e obrigada. Indivíduos do sexo feminino pronunciando obrigado nem me faz muita confusão, apesar de estar errado. Agora, especimens do sexo masculinos referindo obrigada..., isso, para mim, é repugnante. É que está incorrecto, como já puderam reparar pela origem da expressão.
E até faz sentido dizer obrigado quando se é homem, vamos lá a ver:
Os seres do sexo masculino referem muitos adjectivos no masculino: estou nervoso; epá eu sou mesmo bom; no outro dia fui obrigado a limpar a mesa. Mas depois, quando estão a agradecer, dizem (por favor leiam a próxima palavra com um tom homossexual): obrigada.
Não compreendo, e reparem no último exemplo que dei (fui obrigado a limpar a mesa). É o mesma palavra, a diferença é que conseguem acertar todas as vezes menos quando estão a agradecer, devem pensar que é uma palavra diferente... Ridículo. E até são capazes de afirmar: estou agradecido. Que falta de coerência que impera nos dias de hoje, o que nos remete para o estado em o mundo está hoje: absolutamente perdido.
São as pequenas coisas que nos levam a grandes feitos. Pode não parecer mas é verdade.
Tudo isto para vos informar da origem da palavra obrigado e para que a usem sabiamente nos momentos mais oportunos, e conjugado da maneira correcta.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A sério, é chato...

Há coisas do arco da velha. Mesmo. Coisas que incomodam qualquer um e que nos afectam profundamente. Claro que existem muitas destas e todos nós sabemos disso, mas há uma em especial que parece que é extremamente agradável, contudo acaba por ser alvo de críticas e e de acusações graves.
Falo certamente de pontes. Não são aquelas como a 25 de abril ou a vasco da gama, embora também se possam adequar à situação.
Há aqueles que até se podem queixar do estado lastimável em que está uma ponte que dura anos a fio:
- Ah aquele filho da mãe do salazar não sabe fazer pontes!! Olha pa isto, esta faixa da esquerda faz um barulhão do caraças quando tou a passar nela, metem aqui grades ou o catano!!
- Oh meu granda burro, isto é prá ponte não balançar pa caraças e tu não caíres daqui abaixo e não faleceres!!
Ou até se podem queixar de maneira contrária:
- Epá esta vasco da gama tá mesmo bem feita, olha pa isto, já viste o caminho do catano que tenho de fazer só para chegar ali ao meio pa me atirar da ponte para a água e me suicidar?
- Opá vai prá 25 de Abril!
- Agora tá longe, fico por aqui.
Mas não, não são estas pontes. Falo das pontes úteis. Basicamente uma ponte é mais um feriado, só que a fingir, e não conta para as estatísticas. Portanto, em vez de termos 500 feriados por ano, temos 750 porque 250 são pontes.
- Ah quinta é feriado, vou já aproveitar para fazer o fim de semana de 4 dias eheh!
Tenho de admitir que esta possibilidade é interessante, mas quando começo a pensar que se calhar não é tão interessante para certos e determinados indivíduos, quase que descarto a hipótese de ser algo interessante. Porque a falta de interesse que causa a alguns anula o interesse que alicia outros. O pessoal esquece-se que as pontes afectam, de uma maneira que não conseguimos imaginar, o ritmo de trabalho, consequentemente as empresas, consequentemente a economia, consequentemente o Zé das Bifanas porque quando ele for aos EUA comprar uma bifana o dólar já vale mais que o euro e ele tem de gastar uma quantidade bruta de dinheiro. Mas desculpem-me, é giro fazer pontes, e cada vez mais a moda adere cá em Portugal, já estamos uns profissionais do caraças nesta área. No resto do mundo ainda são uns amadores da treta, olhem para a Alemanha: metem os feriados todos na sexta ou na segunda se tiverem um feriado a meio da semana, só para o pessoal não fazer pontes e não ter fins de semana com 4 dias. Mas que estupidez é esta? Opá vê-se mesmo que não têm bons profissionais a actuar no universo das pontes.
Eu ainda acredito no dia em que haja feriado na quarta e se faça uma super-ponte. Não está longe. Até dá jeito porque se se faz ponte para um lado, faz-se para o outro porque quarta fica mesmo ali a meio da semana. Fim de semana de 9 dias, maravilha. Ali o fim de semana vulgar de 2 dias, depois ponte segunda e terça, quarta feriado, mais uma pontezita quinta e sexta e tumbas, outro fim de semana vulgar de 2 dias, perfazendo um total de 9 dias. Isto é que era!
Não, agora a sério... eu estava a mangar convosco... pontes são terríveis... imaginem o incómodo que isto não é...
Imaginem a seguinte situação, puramente fruto da minha mente:
Um indivíduo quer saber as suas notas de final de secundário quando estas saem num dia de grande ocupação do tal indivíduo e este não pode ir ver nesse dia. Porém no dia seguinte é feriado, feriado esse que tem mesmo cara de feriado em que o Sócrates vai ser vaiado (não faço a mínima ideia porquê). Ok, feriado, tudo fechado, não dá para ver quaisquer notas. Parte engraçada: o feriado é na quinta. Oh meu Deus, eu acho que vocês já sabem o que vem aí!! Não!!! Espera!!! Não é possível!!! O QUÊ?!! ADIVINHEM LÁ O QUE ACONTECEU NO DIA SEGUINTE?!!!
- Erm... fizeram bifanas e deram-nas à borla?! Também quero uma! – respondeu um membro aleatório do público a quem fiz esta pergunta.
EPÁ NÃO!!
- O Di Maria foi vendido ao Real Madrid por 40 milhões? Epá poça queria mesmo que ele ficasse no Benfica :(
Epá a sério...
- Desculpa fui estúpido, foi por 20 milhões, ele não tem estofo para ser vendido por 40, ainda por cima o mourinho diz que quer um preço acessível ou lá o que é...
OH MEU GRANDA ATRASADO MENTAL, O DIA SEGUINTE É SEXTA E FIZERAM UMA ESTÚPIDA E INÚTIL PONTE!!!!!!
Eu não sei mas para mim isto não é normal, as pontes andam por aí a assombrar pessoas e a não permitir que estas vejam as suas notas de final de ano e secundário, que até davam jeito para saber a média final. Isto é chocante e nojento. É uma situação que se todos se puserem como protagonistas da mesma, ficam logo com vontade de acabar com as pontes e matar alguém.
E há mais, por exemplo quando os correios fazem ponte, e não podemos usufruir deles. Quem não tem telefone ou internet fica extremamente condicionado e a lamber as feridas em casa. A ponte proíbe estes cidadãos de comunicar com o mundo e torna-os anti-sociais e infelizes, contribuindo para que a taxa de suicídio aumente de maneira desproporcionada. Até daria jeito, mas não na Europa, uma vez que a população está a decrescer, mas ali em África e tal umas pontes eram porreiras para ver se se equilibrava ali a taxa de natalidade com a de mortalidade. É que os recursos já escasseiam para a quantidade brutal de gente que temos aqui a viver.
Nem pensar em fazer pontes, pensem nas consequências que isso vai trazer e como vai afectar a vida de certos e determinados indivíduos, podendo mesmo causar a morte. Portanto, querem fazer ponte? Só tenho um conselho, seguindo a linha de pensamento do parágrafo anterior: Vão para África!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Mesmo que não gostem do futebol vão ver um joguito

Epá desculpem lá o texto completamente fora de contexto mas é só porque isto foi escrito dia 9 de fevereiro de 2010, quando o benfica goleou o sporting por 4-1 em alvalade.


Como todos sabem, ontem ocorreu uma meia-final da taça da liga de futebol entre o benfica e o sporting. Como bom adepto que aprecia um bom espectáculo, fui assistir esse jogo promissor ao vivo. Isto é sempre bom para um indivíduo alargar os seus horizontes e observar atentamente as situações que potenciam a noção geral da situação actual. Se pensam que vivemos numa sociedade civilizada, experimentem só deslocar-se a um estádio de futebol num dia de jogo importante. Perdem a confiança na humanidade e antecipam o fim do mundo para o fim deste ano: a 2012 não chegamos. Mas é sempre bom para o tal enriquecimento do cidadão.
Neste jogo, tive a oportunidade estar lado a lado com diferentes tipos de ser humano, tanto ali da ralé, mesmo a bater no fundo, como do povo nobre, ambos sportinguistas. Com o conhecimento que adquiri ontem poderia efectuar um livro bem pujante em tamanho com o seguinte título: “Síntese da asneira e boca para árbitros que estejam a actuar mal e porcamente, versão 2”. A ralé actuou bem e esteve presente em todo o jogo com as suas mais belas ofensas, e mais especificamente, um membro desta esteve em grande destaque. Tive vista privilegiada deste ser, sorrateiramente atrás. O povo nobre teve apenas um grande momento, pleno de emoção.
5 minutos de jogo, o árbitro mostra um vermelho a João Pereira do sporting. Libertação da raiva animalesca pela parte da ralé, início dos insultos em grande escala e do treino de prácticas desportivas alheias ao futebol, nomeadamente boxe, tomando a cadeira como adversário. Tremeliques no povo nobre. Na sequência da falta é golo para o Benfica. Explosão de raiva animalesca pela parte da ralé, desencadeando uma cena de agradável pancadaria devido a um festejo de infiltrado benfiquista, onde tentaram mesmo remover a camisola a este. Este episódio foi estranho. Quer dizer, um indivíduo leva uma camisola do clube adversário ao da casa, festeja quando é golo, e o que é que acontece? Uma demonstração de homossexualidade monstruosa, aliada a um espiríto selvagem bastante sensual, obrigando o benfiquista a fazer um strip rápido parecendo mesmo que querem apressar muito qualquer coisa de interessante.
Povo nobre chora e tenta impedir as agressões referindo que é uma vergonha e que só subvaloriza o público leonino. Membro aleatório da audiência afirma que se fosse com a esquerda acertava com mais força no lampião. Muitas palavras ausentes de beleza dirigidas ao árbitro continuavam a ser proferidas.
Após este primeiro golo, a reacção chocante de festejar dos infiltrados benfiquistas no meio do imenso mar verde e após a pancadaria, voltou tudo à calma e tranquilidade anterior, com o quádruplo da tensão a tentar ser controlada. Deu para perceber o sinal, aquilo tinha sido só a primeira ronda da final nacional de kickboxe, e estavam unicamente a voltar para os seus cantos, colocando água desenfreadamente nas feridas expostas e ouvindo palavras de encorajamento dos treinadores. Também deu para tirar umas notas de “o que não fazer quando se está ao lado de um número elevado de sportinguistas enfurecidos”, nomeadamente, festejar um golo do Benfica.
O jogo prosseguiu, agora com insultos mais ofensivos e com uma maior frequência ao árbitro.
2º golo do benfica. Olham todos para trás buscando qualquer coisa de violento, de seguida viram-se de novo para a frente, desiludidos. Contenção dos infiltrados.
- Pois, agora não festejam não é? Caladinhos que assim é que é bonito – disse acenando afirmativamente com a cabeça e com o seu cachecol do sporting ao pescoço. Segundo membro de grande destaque por parte da ralé revela-se mal encarado, o resultado está a fazer-lhe a vida em tons de negro. Escuso de dizer que os insultos ao árbitro continuaram porque isso é o pano de fundo do espectáculo, posso apenas dizer que variavam pouco, e ainda por cima, nem eram originais nem novos, já os sabia todos.
Segue, e o sporting marca, festejo previsível dos adeptos fervorosos do clube. A vela da esperança acendeu-se com um isqueiro semi-estragado. 2-1 no resultado e o intervalo chega sem querer, grande hipótese para acalmar as tensões mandando para o ar mais ofensas e alguns objectos. Foi claramente o momento mais pobre no que toca a enriquecimento interior uma vez que os adeptos saíram todos dos seus lugares, e estava era ansioso pelo começo da 2ª parte. Após uma gigante espera de 15 minutos, voltaram todos para a acção, um pouco mais calmos, apenas sussurando palavras não bonitas.
O 2º tempo tem início e concentra todos os olhares. Festival de cartões, até um suplente leva vermelho. O 3º terceiro golo do benfica já deixa poucas dúvidas acerca do vencedor. Os insultos ao longo da 2ª parte foram diminuindo a sua frequência mas aumentando a sua intensidade e duração, e eram mais originais, no intervalo devem ter dado uma vista de olhos pela obra: “ Síntese da asneira e boca para árbitros que estejam a actuar mal e porcamente versão 1”. Estes indivíduos também já mandavam as suas típicas refilices de arbitragem: “É sempre a favor do Benfica, não há nada a favor do Sporting”. Pois é, um autêntico roubo para o sporting tal como aquele antigo jogo:
- Eia lembras-te daquele jogo no outro dia em que fomos roubados que nem sei lá o quê?
- Não, só houve uma faltinha da treta mal assinalada para o adversário e para nós houve 40 penalties que não eram penalties, 25 mãos não marcadas e 13 foras de jogo não assinalados que resultaram em golo.
- Ah foi? Ah devia estar em modo fã calhau.
As insinuações de corrupção por parte do Benfica entram em jogo. A ralé discute-as, nem ligando ao jogo:
- Isto desde o vale e azevedo até agora é uma vergonha! Todos uns ciganos!
- O Pinto da Costa ao lado deles é um anjinho!
Claro, e tu ao lado de um cidadão bem formado és um babuíno retardado!
O belíssimo 4º golo do benfica acaba com quase tudo, marca o abandono parcial do estádio mas a situação prometia. Acaba o jogo e abandono igualmente o recinto. As tensões tinham de ser obrigatoriamente aliviadas, não se sabia era onde, porém perceberam todos no momento a seguir, campeonato de vale tudo às portas do estádio com alguns indivíduo a tentar fugir. E vai um pontapé de direita com grande potência, seguindo-se um potente soco de esquerda e algumas fugas. Rapidamente me apercebi que ir a grande jogo de futebol é a mesma coisa que ir a um evento multidesportos. Temos o taekwondo entre os próprios jogadores, o boxe e o kickboxe a nível do público durante o jogo. No exterior, depois do jogo, campeonatos de vale tudo com atribuição de medalhas pela PSP, 100 m e 3 000 m para as fugas de sprint e resistência e 110 m barreiras para saltar por cima dos feridos da batalha campal.
Deixo um sério apelo às idas aos estádios de futebol, porque mesmo que não gostem do futebol, têm sempre outras modalidades que são interessantes de ver e sempre ficam mais informados sobre o mundo.

Sugestões para temas

Basicamente este blog aqui é um blog que eu uso para colocar os textos que vou fazendo e tal. Como já perceberam não são textos comuns, são plenos de parvoíce sobre os mais variados temas.

Criei este post aqui para dizerem nos comentários sugestões de temas que gostariam que eu tratasse porque eu às vezes também não tenho muitas ideias para temas diversos. E isto também acaba por ser um desafio para eu conseguir escrever sobre tudo e mais alguma coisa.

Obrigado desde já a todos aqueles que sugerirem temas.

Há notas do caraças...

Em certas alturas, a entrega das provas de avaliação escritas é um momento extremamente interessante e em que coexistem todo um leque de reacções dentro de uma sala de aula. É sempre um fenómeno imperdível, e, para quem vê de fora com toda a segurança do mundo, pode ser até um espectáculo a admirar, a par do futebol.
Neste momento tão rico e variado em situações e em emoções, existem diversas fases, tal e qual como quase todos os eventos no planeta. A entrada na sala ou fase preparatória, a recepção dos testes propriamente dita, a discussão de notas ou fase da revolta e, por fim, a recuperação da sanidade mental.
A primeira fase é a fase de entrada na sala e em que alguém pergunta ao professor:
- Stor, é hoje que vai entregar os testes?
- Sim.
- Poça, finalmente, já passaram duas semanas. É que me correu mesmo bem.
E grita um do canto:
- O quê?! Os testes?! Epá não, não quero receber isso pá, vou ter praí nega!
- Epá, deixa lá ó, a mim correu-me bué da bem, vou ter tipo um 20!
A pancadaria verbal toma princípio e os ânimos ficam logo com uma elevação extrema.
E após esta construtiva fase, podem ocorrer dois acontecimentos: ou o professor entrega os testes no final e dá a sua aula com relativa calma... ou entrega no início e atura um cagarim frenético que não tem fim.
Este segundo momento da recepção propriamente dita dos testes é uma fase um pouco injusta. Quem me dera chamar-me Abílio Abundâncio, porque se assim fosse, todo o drama da recepção desaparecia por completo. O suspense inquientante dos últimos números da turma é quase comparável a uma condenação à morte provocando uma dor tão lacinante que acabamos por falecer com um sofrimento de nível algo elevado.
Enquanto todos já estão a dizer as suas notas ao colega do lado, ou colocando a cabeça entre os braços, os últimos ainda estão agarrados ao peito com força tal que as marcas da mão lá permanecem até ao fim do dia.
Contudo, quando por fim, todos recebem, há sempre algo que é terrível neste evento. Possuir um 19,9. No fim da entrega as notas vêm obrigatoriamente à conversa (desconheço a razão deste facto, mas a verdade é que acontece sempre) e é aí que todos os 19,9 são revelados!
Que nota inglória esta! A pior nota possível e imaginária! Muito, mas muito pior, que um 12,2.
É que no confronto com os colegas de turma, ter um 12,2 é indiferente:
- Então, quanto tiveste?
- 12,2.
- Ah ok. Para a próxima tens de melhorar um pouco.
Agora, um temível 19,9 pode provocar reacções absolutamente assustadoras:
- Então, quanto tiveste?
- 19,9...
- O QUÊ?!!! EPÁ QUE AZAAAAAAAAAR!!!! EU NÃO QUERIA ESTAR NO TEU LUGAR!!! Onde é que perdeste o ponto que falta? Já viste? SE NÃO FOSSE ISSO TINHAS 20!!!!! TU SABES O QUE É TER UM 20?!!! EPÁ CLARO QUE NÃO PORQUE TIVESTE UM 19,9!!!
A palavra mais original para descrever esta sensação é mesmo a palavra nojo. É um nojo. É RE-PUG-NAN-TE. Por isso, não é de admirar que todos os alunos com esta frustrante nota se dirijam ao professor na esperança deste detectar mais algum erro e baixar a nota. Porque nada é pior que um 19,9. 19,8, 19,7, 19,6, 15,1, 12,5, 5,2 são todos exemplos de resultados a que um aluno reagiria muito melhor.
- Tive um 19,1!
- Oh meu Deus, que notão! Parabéns!
- Obrigado, obrigado, imagina lá se fosse um 19,9? Poça, atirava-me da ponte.
- Tive um 5,2!!
- Poça granda nega. Mas pensa positivo, ao menos não é um 19,9.
- Tens razão, imagina lá se fosse? Os meus pais matavam-me.
Agora, quem tem um 19,9 fica de rastos e como já disse, mais vale irem ao professor para este baixar a nota. Mas talvez se perguntem vocês: Epá é preciso ser atrasado, porque raio vai ao professor para ele lhe baixar a nota e não para subir?
4ª Lei de Newton: Um 19,9 nunca pode subir. Aquele ponto miserável perdido à custa de estupidezes que mais parecem pertencentes a um indivíduo com acefalia grave, nunca pode estar mal corrigido. Portanto, o aluno mesmo que trabalhe mais do que já trabalhava nunca vai ter melhor nota, porque o seu problema são os ataques de idiotice a meios das provas. É que não se trata de falta de inteligência, são mesmo coisas inúteis como não ter metido um P, ou não ter feito um círculo à volta de um ponto...
Quando muito, consulta um psicólogo para evitar os ataques que o fazem perder um ponto. E é ele que tira todo o prazer de folhear um teste premiado com nota máxima.
Folhear um 20 é como admirar um escultura perfeita. Folhear um 19,9 é como admirar uma escultura quase perfeita, que só não o é, porque o escultor parecia já estar meio enfrascado no final e falha um pequeno pormenor.
Um 20 é uma obra de arte, no fundo, e é por isso que merece ser pendurada na parece do quarto com uma moldura talhada a ouro. Um 19,9 é uma nota tão asquerosa que apetece mesmo deixar saliva em cima. Esta nota é a causa de não se poder observar alegremente, após vários anos, todos os 20’s espalhados pelas paredes da casa, alguns já em folhas tão amarelas e esburacadas que nem se vê a nota. Mas a memória não nos falha e podemos dizer com orgulho que aquilo é de facto, uma nota máxima.
E é por isso vamos à escola quando somos novos e frescos, e não quando somos idosos e experientes. Não é porque os jovens têm mais facilidade em aprender, nada disso, é porque têm melhor memória. Porque se lembram mais facilmente dos 20’s que tiveram. Se fôssemos para a escola já idosos, posteriormente, não nos lembraríamos porque é que tinhamos a casa cheia de quadros com folhas podres, e deitaríamos tudo para o lixo, incluindo as horas de esforço que levaram à glória do melhor objectivo que se pode ter em termos académicos.
Enfim, e com esta reflexão já analisei a 3ª fase da discussão de notas. Falta apenas a 4ª e última fase que é a recuperação da sanidade mental.
Isto passa muito pelo conforto de pensar que no próximo teste é que é, e que aí é que se vai subir a nota. Ou, no caso de ser o último teste, pensar que não é possível fazer mais nada e que ainda há outros objectos de avaliação e que as provas não são, afinal, assim tão importantes. No caso de um 19,9, esta fase não é possível de ser efectuada porque o choque é tremendo e permanece para o resto da vida, atormentando um indivíduo nos momentos mais inoportunos.
Pensem bem na possibilidade de terem um 19,9 enquanto estão a fazer o teste, e, se for preciso, percam ali uns 2 ou 3 pontos (porque nunca se tem a certeza de que se vai tirar um 20) mesmo de propósito para não apanharem a desilusão da vossa vida.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Quem diz que gosta das chipmix roxas não sabe o que está a dizer



















Há quem ame bolachas chipmix. São interessantes e deveras chocantes. Desafiam todo o conceito de bolacha tradicional: uma típica Maria, ou uma humilde bolachinha de água e sal.
A ideia de meter chocolate nas bolachas veio de uma pessoa cujos gostos passavam muito pelo chocolate, ou então de um indivíduo que quer fazer sucumbir todo o ser humano alarve e que nunca consegue resistir ao sólido ou líquido castanho (quer seja na cozinha ou na casa de banho).
Quando se compra um pacote de chipmix, a alegria invade as faces dos compradores porque sabem o quão bom é este alimento, e das senhoras da caixa porque sabem que estão a contribuir enormemente para o bem-estar de um lar.
A inovadora ideia do chocolate em bolachas foi fantástica pois dantes, comer uma bolacha era ridiculo. Onde é que aquilo fazia mal? Opá, mas que parvoíce, estar a comer bolachas para nem ficar obeso? Ora aí está, vamos meter chocolate naquilo pá! Assim é que é. O prazer de comer uma destas desafiadoras bolachas aumentar devido ao factor “faz mal”. Porque se não fizesse mal, deixariam-nos comê-las quando nos apetecesse e, dessa forma, o gozo desaparece.
Mas enfim, tudo isto para vos introduzir no mundo destes alimentos com chocolate. A verdade é que coexiste um dilema com esta delicada situação: há diversos tipos de bolachas chipmix. E é aqui que se abre um combate entre produtos da mesma marca.
- E no canto esquerdo, pesando 125 g, ex-campeãs do campeonato mundial de bolachas com chocolate e 5 vezes campeãs dos EUA, temos as chipmix roxas!!!!
- Ó estúpido, não são roxas, aquilo é azul, daltónico do catano! – grita um membro do barulhento público.
- E do lado direito, também com um peso líquido de 125g, as actuais campeãs mundiais, 12 vezes campeãs intercontinentais, 5 vezes campeã da Europa, 3 vezes campeãs no título de prateleira mais chegada à caixa 40... AS BOLACHAS CHIPMIX!!!
O público uiva enquanto os pacotes colocam os protectores bucais e se refrescam com as garrafas de esguicho.
De facto, poderia tratar-se de um combate épico, entre dois rivais próximos e apesar de pertencerem aos mesmo agente, são completamente diferentes. As bolachas chipmix roxas, no contacto visual, geram logo desconfiança, uma vez que são todas elas escuras, quase do tom das pepitas de chocolate que contêm. No toque com a língua, mostra-se pouco amigável devido à textura mais agressiva e pontiaguda da zona que não possui as pepitas. E mesmo as pepitas são mais afiadas e podem causar lesões a nível do músculo da boca.
Aquando da mastigação, a formação do bolo alimentar e o sabor adquirido pelas papilas gustativas é desagradável. Um comum cidadão espera que sejam experimentados dois belos sabores: o do chocolate, e outro semelhante a uma bolacha regular. É enganado, experimenta apenas um sabor e uma coisa quase semelhante a ranho (que é mais ou menos a minha descrição do sabor da bolacha em si, sem as pepitas). Podem estar um pouco indignados agora devido à minha utilização da hipérbole extrema, mas há coisas que têm de ser ditas para causar impacto.
Ora, com um adversário aparentemente tão fraco, as chipmix amarelas vão certamente ganhar por larga vantagem.
No contacto visual estimulam logo os globos oculares devido à variação suave de cores que possuem, com as pepitas bem distribuídas por toda a bolacha. Logo aí , existe um primeiro contacto determinante para o sucesso precoce destas chipmix. É um duro golpe de direita mesmo na face das roxas.
No toque com a língua, é quase como que um salmão cru, suave e gentil, sem arranhar nem incomodar. Brutal golpe de esquerda no rim.
Aquando da mastigação, o prazer causado pela perfeição da textura e das formas faz qualquer um fechar os olhos levemente, e erguer ligeiramente a cabeça dizendo “hmmm”. Joelhada no estômago das roxas.
Claramente as chipmix amarelas derrotam as outras em qualquer condição e ocasião. E portanto se optarem por comer outras ao invés destas, estão a cometer um enorme erro. Não sabem o que perdem.
Agora, sempre que forem a um supermercado, ou hiper, ou mini, ou de que tamanho for, olharão para as diferentes variedades de chipmix de maneira diferente e se não levarem as amarelas para casa é porque não compreenderam a verdadeira essência desta cor através deste texto.

Os autocarros são assaz interessantes






















Claro está que não existe ignorante indivíduo de raça humana nesta sala (este texto foi projectado para ser lido numa sala cheia, lamento a todos aqueles que se tenham sentido ofendidos por estarem a ler isto numa sala sozinhos, ou por nem estarem a ler numa sala sequer) que nunca tenha visto ou não saiba o que é um autocarro, mais especificamente aqueles da Carris, esses veículos magníficos em tons de amarelo (no caso do 54 aos dias de semana trata-se de um amarelo a atirar para o sujo). Autocarros esses que andam desalmadamente pelas ruas de Lisboa.
No entanto a maior parte das pessoas apenas vê o seu enganador aspecto exterior e mais superficial porque aliado a estas máquinas está todo um universo dos autocarros. Quem não está minimamente por dentro deste vasto universo não faz a mínima ideia do que lá se passa e garanto que não é bonito.
Este universo começa sobretudo nas paragens, onde se reúnem diversas pessoas impacientes que se não vêm o indicador de tempo que diz quanto tempo falta para o autocarro chegar começam a roer as unhas. O inovador indicador dos tempos que faltam para os autocarros chegarem é bem recente mas já dá muito que falar, muita polémica veio a trazer ao vasto universo dos autocarros:
- Faltam 5 minutos para o autocarro.
- O quê? Mas há pouco faltavam 4! Que incompetentes!
Claro que também dá para comparar com os demais autocarros:
- Para o meu autocarro faltam 7 minutos!
- Eheh para o meu faltam só 2!
E isto é o entretém enquanto não chegam os velozes autocarros. Relembro que mesmo sem os indicadores de tempo é possível ver quanto falta para os autocarros chegarem nos papéis das paragens, isto se os motoristas cumprirem os difíceis e exigentes horários.
Posteriormente, aquando da suave entrada no autocarro, apercebemo-nos de mais uma estrondosa vertente do universo dos carros para mais de 50 pessoas, a fila. Por fila entende-se conjunto de pessoas ao longo de uma linha recta, de um e do outro lado da paragem, pessoas sentadas nos bancos e os chicos espertos no meio em pé. Mas este belo estado de organização tende a ruir. O autocarro pára e as pessoas começam lentamente a dirigir-se para a porta, onde ocorre um aglomerado e no meio desse aglomerado pessoas passam à frente de outras. Os chicos espertos que estão na paragem, aqueles que em vez de irem para o fim da fila, ficam mesmo ali ao pé dos bancos para entrarem no autocarro à campeão, à frente de toda a gente. Ora existem certos individuos não gostam disto.
- Oiça, a senhora passou à frente! (normalmente são senhoras)
Silêncio. Adivinha-se porrada no autocarro. Já assisti a ameaças bastante agressivas e cenários de gritaria devido a isto.
- A senhora passou à frente, sabe muito bem que sim! Eu já estava na paragem quando a senhora chegou!
Após dizer isto 30 vezes, a outra senhora que passou à frente e que permaneceu calada perde a cabeça:
- Olhe que leva com a mala no focinho!
Bem! Que mudança tão brusca! Calma lá, sim, realmente a senhora tem razão, qual o mal de passar à frente de umas meras 4 ou 5 pessoas?Há muitos confortáveis lugares para todos no autocarro!
Normalmente as senhoras têm já uma idade para além dos 50, e até dos 60. Podem ser classificadas como velhinhas, idade avançada é um eufemismo meio parvo. Existem 4 categorias de velhinhas dos autocarros.
Velhinha categoria nº1: Entra no autocarro a muito custo e, sem hesitar senta-se nos lugares vermelhos (os lugares vermelhos são os lugares para os deficientes, grávidas e idosos)
Velhinha categoria nº2: Entra no autocarro, passa pelos lugares vermelhos fintando-os com estilo como o cristiano ronaldo num dia mau, fingindo que vai lá para trás, mas pensa melhor, volta para a frente e fica mesmo nos vermelhos.
Velhinha categoria nº3: Entra no autocarro, cumprimenta o motorista e evita sentar-se nos lugares vermelhos, tendo como preferido aquele lugar mais perto do motorista para poder falar com ele e para depois ter menos trabalho a sair pela frente. (É bom salientar que nos autocarros a porta de saída é atrás.)
Velhinha categoria nº4: Igual à categoria 3 mas não fala com o motorista e o seu lugar de eleição não é ao pé do motorista.
Dentro de todas estas categorias existem duas variantes, a velhinha que se lamenta constantemente e a que não se lamenta constantemente.
E aqui partimos para mais outro fantástico facto dos autocarros, as conversas de autocarro. Pois bem, as conversas de autocarro são geralmente sobre o tempo ou sobre familiares adoecidos ou sobre a sua própria desgraça.
- Parece que hoje vai chover.
- Pois, realmente disseram isso ontem no telejornal.
- Pois é, olhe, veja lá você que o meu Manel foi parar ao hospital e tem de ser operado.
- Ah sim, isso é terrível, eu também há pouco tempo caí lá em casa e tive de ir ao hospital.
Esta é uma típica conversa de autocarro. E qualquer boa conversa de autocarro começa precisamente nos misteriosos lugares vermelhos. Estes lugares são propícios ao ínicio de conversas, e isto porquê? Porque são dois voltados para a frente e dois voltados para trás, ficando as pessoas cara a cara. Inevitavelmente inicia-se uma conversa. Dá-me ideia de que os próprios designers do espaço do autocarro tinham isto em mente, a ideia de criar conversa, quebrando aqueles momentos aborrecidos nos autocarros em que está tudo calado e só se ouvem os auriculares de um jovem a fornecerem um som de amplitude suficiente para se poder ouvir por todo o autocarro.
Os lugares de autocarro também têm muito que se lhe diga, e há certas pessoas, idosas claro, que teimam com os lugares que estão voltados para trás, com as costas do banco para o motorista. Estes lugares parecem o inferno mas quando não há outros e aqueles são os únicos livres, não há hipótese. Existem 3 lugares desse tipo, 2 dos vermelhos e um dos standards, na frente do autocarro. Com os vermelhos ninguém refila (normalmente, porque já vi aí pessoas a refilar, não basta terem lugares reservados ainda refilam com eles, pobres e mal agradecidos) mas o outro parece que está infectado com um espécie de doença bastante grave, uma vez que é quase o último a ser ocupado, sem contar com aquelas pessoas que têm uma dor na gengiva do maxilar superior e que não conseguem andar até lá atrás. O que acontece neste lugar é algo de estranho, à frente dele existe outro, voltado para a frente, e quando este fica livre, a senhora velhinha que está no tal lugar estranho salta qual leoa que não come há 3 dias e senta-se em meio piscar de olho, parecendo que aquele lugar lhe sacia a fome.
Mas ao passo que a longa jornada no autocarro passa e as pessoas começam a atravessar aquele emaranhado de ferros e botõezinhos que dizem stop, chegam finalmente à porta de saída, prontas para... sair. Este momento também tem as suas pequenas curiosidades. Devem todos pensar que este é mais um momento normal, ... não, num autocarro nem sequer existem momentos normais. A saída deveria ocorrer da seguinte forma: depois da partida da paragem antes do destino pretendido, carregar no stop (que faz um som semelhante a uma campainha e até é divertido de carregar) , em seguinda levantar-se ou não, dependendo da posição em que nos encontramos, sentados ou em pé, dirigir-se à porta de saída, esperar que a porta abra e finalmente abandonar o gracioso veículo.
Nada disto acontece a algumas pessoas.
Primeiro: Em vez de se levantarem quando falta uma paragem para o destino, levantam-se quando faltam 3 ou 4. Nunca percebi o sentido disso, deve ser para terem tempo de sair, já que é um movimento um pouco complexo.
Segundo: Assim que se abre a porta, o primeiro que vai a sair grita “Só um momento!” para o motorista, para ele não fechar a porta. Eu diria que essa pessoa nunca correria o risco de ficar entalada na porta e não acredito que assim que o condutor abrisse a porta, a fechasse logo a seguir, só mesmo para entalar o primeiro que vai a sair.
Para além de todos estes factos, existe ainda outro um pouco raro. Andar uma paragem. Contudo, entre a paragem onde se entra e a paragem onde se sai, que é a imediatamente a seguir,... este espaço contém geralmente uma esquina. Explicação mais provável para este facto: Não conseguem dobrar a esquina. Vão com o balanço da recta e não conseguem curvar a 90º. Sim senhor até compreendo que seja um pouco difícil e cansativo mas o que ultrapassa tudo é que eu já vi seres humanos a fazer isto, andar uma paragem, e “arrotar” 1,30€.
Após isto tudo penso que já conhecem minimamente o universo dos autocarros, esse universo tão cheio de surpresas e mistérios.

Agora estamos em 2010. E daí?


























Como todos devem ter reparado, o ano mudou. Eu acho que a única diferença foi o facto de agora não meter 2009 na data e um 0 ter substituído o 9 no final e um 1 ter substituído o penúltimo algarismo que era o 0. Mas parece que existem boatos que dizem que afinal não é essa a diferença mas sim o facto de o 9 ter sido trocado pelo 10 e um dos 0 foi removido. Enfim... Contudo, é mais significativo para a humanidade que vê esta alteração como algo de muito importante e especial, dizendo inclusivé que cada ano é uma nova etapa da vida, pedindo desejos como se não houvesse amanhã, e tragando champagne que nem um ávido maluco. Agora pergunto: Isto faz algum sentido? Trago a minha sincera dúvida que muitos vão achar que é ridícula e inoportuna.
Um bom exemplo de um típico desejo de ano novo:
“Ah eu espero que em 2010 tenha melhores notas e seja um ano melhor com paz e amor, que seja um ano em que a fome no mundo acabe”
Só podem estar a mangar comigo, porque que é que isso tem de acontecer em 2010 se não aconteceu em mais ano nenhum que também desejaram isso?
“Ah 2010 é especial, dizem que um ano que tenha o algarismo 1 entre 2 zeros dá muita sorte”
Ora, o único ano em que isso acontece num futuro razoalvelmente grande é só mesmo 2010, ou seja, 2010 será o único ano no nosso tempo que vai dar sorte, segundo esta teoria. Mas não se preocupeis, porque quando chegar o 2011 dois uns depois de um zero também vão dar sorte.
Isto de pedir desejos para o novo ano é exactamente a mesma coisa que pedir desejos todos os meses, ou todas as semanas, ou todos os dias, ou todas as horas, a única coisa que muda é período de tempo.
Creio que todas estes ridículos rituais do ano novo são só um hediondo pretexto para haver mais uma festa garantida por ano, mas lá está, celebrar a passagem de ano é tão parvo como celebrar a passagem de mês:
“...3 2 1 wuoooooooo marçooooooo wuo grande mês, este mês é que é, adeus à crise e à pobreza”
Basicamente celebra-se porque o tempo passa. Muito bom, celebramos porque falta menos um ano para falecermos e menos 1 para a humanidade acabar, respectivamente ou simultaneamente. E como se não bastasse a festarola, há repouso no dia 1 de janeiro. É feriado. Porquê? Então, porque passou o ano. Vamos reflectir: 1 dia de feriado num ano corresponde a 0,274% do ano. Pegando no minucioso pensamento anterior, então se houvesse um tempo livre, correspondente ao feriado, por cada mês que passasse, 0,274% do mês seria esse útil tempo, ou seja, 0,08 dias de descanso (1 hora, 55 minutos e 12 segundos) (em meses de 30 dias). E o equivalente para a semana seriam 0,46 horas (27 minutos e 36 segundos). Seria a mesma coisa no fundo.
Para além disso é extremamente injusto porque em Portugal os cidadãos celebram 78,70 passagens de ano (é a esperança média de vida de portugal). Ora, e então aquele senhor designado de neandertal? Se celebrasse apenas as passagens de ano teria apenas 30 festins garantidos. Escandâlo! Por isso é que celebravam a passagem de quadrimestres, assim festejavam 90 vezes ao longo da vida.
Então e um indivíduo resistente que viva 500 anos? Não vai celebrar 500 vezes, isso seria um abuso e chegaria aos 200 absolutamente farto das frequentes mudanças de ano. É por isso que estes raros indivíduos celebram a passagem do lustro, que para quem não sabe é um período de 5 anos, assim são só 100 comemorações sem sentido.
Contudo este fenómeno da passagem de ano não se fica só pelos festins, há também tradições, muito adequadas a uma celebração sem sentido. A mais comum delas todas é a tal de se meter em cima de uma cadeira em pé (vejam-me bem a idiotice) e comer 12 passas e a cada uma pedir um desejo. Isto é ridículo, com uma passa uma pessoa nem sacia a fome. Foi por isso que, incoerentemente, decidi fazer este ritual mas com duas pequenas alterações, em vez de ficar em pé na cadeira, sentei-me com uma mesa à frente, e em vez de passas, comer 12 lasagnas. Posso-vos garantir que é mais puxadote que as passas. Ao fim do 8º prato já tinha enchido o primeiro alguidar ao meu lado de dejectos provenientes da minha cavidade bucal. Outra tradição extremamente credível é não começar o ano com os bolsos vazios (sem dinheiro) nem com roupa apertada, senão tornamo-nos uns pelintras de todo o tamanho durante o resto do ano. Por essa lógica eu estaria um pelintra de tal ordem que nem dinheiro teria para comer o meu croissant com chocolate matinal, e portanto ficaria com fome, e faleceria. Como podem comprovar a olho nu, ainda não faleci, logo esta tradição é provavelmente uma farsa.
E ainda há quem diga que usar uma nova peça de roupa no primeiro dia de ano novo também dá sorte, especialmente se forem cuecas, e azuis. E para ter sorte de cariz económico basta vestir uma peça amarela, e ter uma nota no sapato. Sim, e se se vestirem todos de vermelho e forem para uma praça de touros têm sorte de cariz suicidico.
Mas falta a cereja no topo do bolo. É a acefalia de fazer o maior ruído possível com tachos, de preferência na rua. Alegadamente, isto serve para afastar maus espiritos e o novo ano ser livrado de todo o mal. Acho que vou começar a andar com tachos para sempre para, assim que me estiver alguma coisa a correr mal, afastar os maus espiritos.
“Epá não consigo fazer a 2.1 do teste de matemática e só faltam 2 minutos para acabar, é melhor fazer um pouco de cagarim com tachos da tefal”. Duvido que tivesse algum sucesso, e creio que me anulariam o teste ou me confiscariam os tachos, o que seria aborrecido porque já não poderia lutar contra os insistentes espiritos malditos.
Só não falo de outras porque a minha taxa de audição de tradições estúpidas está quase a roçar no máximo, porque ainda há muito mais.
Porém, há uma tradição que pouca gente conhece e ao fazê-lo tornamo-nos o próximo fenómeno mundial (pessoas como barack Obama, Cristiano Ronaldo fizeram este ritual): consiste em 2 mesas e uma estante de 4 prateleiras.
Primeiro começa-se num apoio facial invertido sobre a primeira mesa com 501 chocolates milka e 3 secadores. Fazendo 3 mortais à retaguarda partindo da primeira posição, aterrar na segunda mesa com 300 penicos de polietileno tereftalato e 5 guarda roupas ao alto. Depois da aterragem na 2ª mesa que tem de ser efectuada apenas com o apoio do dedo mindinho, trepar a estante até ao topo. A estante tem de possuir: na primeira prateleira 4 exemplares d’ “Os Lusíadas” com a folha 101 rasgada a metade, na segunda, uma espingarda de canos cerrados, na terceira, 5 pontas de lança em sílex neolítico e na quarta 3 pratos de sopa cheios até ¾, com canja de galinha com 5% frango.
Resumindo, isto serve para se ser o ser humano mais bem sucedido do ano em que fizerem isto no primeiro dia de Janeiro. Só uma pessoa pode ser a melhor num ano por isso se mais do que uma pessoa fizer isto no dia 1 de Janeiro, apenas conta a que primeira que ligou a televisão no canal 3 depois de tudo feito.
Não adiram a tradições nem a passagens idiotas. Que a vossa pessoa reflicta o sentido inerente ao homem.




Leiam este texto como se estivessem em janeiro se faz favor

Se lerem isto o mundo explode
























Como todos sabem, a extraordinária televisão é vista e/ou ouvida por imensas pessoas e isso significa que este meio de comunicação começa a ter um estrondoso impacto sobre tudo e todos. É magnífico o que um simples aparelho pode influenciar. Ora bom, precisamente por causa deste facto há-que censurar algumas coisas na televisão para não afectar as frágeis pessoas que estão do lado de lá do ecrã.
Eu, espectador assíduo da caixinha mágica que não faz magia nenhuma, já presenciei uma censura bastante caricata: a censura de sangue. Mas não era o tipo de sangue que jorra infinitamente aquando de uma brutal decapitação, não, nada disso, era apenas o sangue de uma ferida com 5 mm2 de área, com umas meras pingas de sangue no solo.
Isto é o cúmulo, mas qual a razão por detrás disto? Agora ver pingas de sangue é mau e fere a sensibilidade? Até parece que não há disso lá fora. Sangue é o que não falta nos dias de hoje. Qualquer dia não podemos ver sangue em nenhuma ocasião e temos de andar todos com vendas nos olhos quando saímos de casa não vá um indivíduo com um gigante arranhão de 1 mm na cara, passar por nós, ou um com uma borbulha infectada. A vida lá fora é um perigo, um autêntico perigo. Como é que ainda não nos obrigaram a usar uma venda na cara? É uma grave lacuna. Todos devíamos usar vendas, até mesmo os condutores. Imaginem lá que o condutor atropela alguém e esse alguém salpica-lhe o vidro da frente com sangue. Não pode ser! É demasiado chocante. Há-que usar vendas para não ferir susceptilidades.
Porém, é curioso porque há uns anos atrás parece que o pessoal era mais rijo, e isto porquê? Porque acho que o sangue até era normal e as pessoas podiam vê-lo sem desmaiar. Até gostavam de o ver, andavam sempre em guerras corpo a corpo dilacerando tudo o que viam à frente em cima dos seus maravilhosos cavalos também cheios de sangue espichado. Até as crianças eram treinadas para fazer isso e acham que uma gotinha de sangue os intimidava? Pelo contrário, quando viam uma sentiam-se logo orgulhosos por terem feito derramar uma. E nem é preciso recuar a esses tempos medievais, basta recuar ao século passado em que o sangue ainda não era censurado e todos conviviam bem com ele, até era uma espécie de amigo porque avisava quando tinham ido longe demais ao usar a faca, funcionava como alerta (acho que ainda há gente que não sabe deste carácter informativo do sangue). Agora não, não, qualquer dia chega um indivíduo a adulto sem ter visto uma gotícula vermelha do seu próprio organismo.
Será que o sangue era diferente, era um sangue menos chocante do que o actual? É que o actual tem um efeito mesmo forte.
Ah, mas espera lá, a televisão também não é aquele aparelho que transmite conteúdos violentos considerados chocantes? Ah malvados, a tentarem fazer sucumbir aqueles que vêem esses conteúdos. Por um lado protegem-nos dos perigos e por outro mostram-nos sem piedade. Isto trata-se claramente de uma antítese televisiva. Os programadores de televisão estão a evoluir bastante, até já usam figuras de estilo.
De facto, esta antítese enriquece bem a televisão na medida em que o choque aquando do visionamento de uma cena mais vermelha. Ou então para prender os telespectadores ao ecrâ, porque como não sabem o que é aquele líquido encarnado, continuam a ver o programa para descobrir o que é o tão misterioso fluido.
Possuo um conselho: tratem-se. E façam o favor de ser coerentes que também dá um jeito tremendo.
Com este pequeno texto posso concluir não só que a mentalidade do ser humano parece que está a regredir mas também que os programadores televisivos de hoje dariam bons poetas devido à riqueza das suas figuras de estilo.



(Se leram isto e o mundo não explodiu é porque alguém leu ao mesmo tempo um texto intitulado: "Quem ler isto faz com que as pessoas que leram coisas que fazem com que o mundo expluda não provoquem a explosão do mundo")

De hoje a 8 dias?

Tenho quase a certeza que uma semana tem 7 dias. E que duas semanas possuem 14. Se eu fizesse um tão coerente inquérito sobre este oportuno tema, certamente a maioria concordaria comigo, excepto um recôndito homem das cavernas que nem sabe o que é um auto rádio nem um rissol. É que duvido no meu máximo expoente que alguém diga que uma semana não tem 7 dias, é claro como água límpida e intocada desde sempre.
Então porque existe aquela expressão tão entranhada no cérebro da maior parte das pessoas que mexe com o estranho conceito de semana? Falo do tão conhecido “de hoje a 8” e o famosíssimo de “hoje a 15”, que no fundo são a mesma coisa. Bem, eu ao início ainda pensava que se estavam a referir a uma semana e um dia. Mas isto foi só até ao dia em que me disseram que o meu tetra avô ia falecer dali a 8, e acabou por falecer uma semana depois.
Primeira questão que isto impõe: Se uma semana são 8 dias, então porque dizem que duas são 15? Supostamente são 16 porque 8+8=16. Começo a pensar que apenas se acrescenta um dia por diversão, só mesmo para mandar aquele estilo revestido de utilidade.
Segunda questão absolutamente pertinente: Porque não se diz antes “daqui a uma semana” ou “daqui a duas”. Além de se pouparem polémicas poupam-se letras também. E ao menos era mais coerente uma vez que se diz “daqui a um mês”. Num mês de 31 jornadas ninguém profere: “Olha, até daqui a 32 dias”. Nunca podemos deixar de dizer aquele dia extra para o estilo, relembro. Ou num ano não bissexto ninguém vocifera: “Olha, até daqui a 366 dias”. Chegando ao limite de dizer: “ Olha, até daqui a 1461 dias” (que é como quem diz 4 anos). Este último é parvo porque ninguém combina encontrar-se só dali a 4 longos anos, no mínimo dos mínimos 1, naqueles jantares de Natal e tal.
Claro que posso estar incorrecto e afinal uma semana tem mesmo 8 dias, 7 que eu sei que existem e 1 mistério. Quiçá esteja a perder esse dia mistério por semana. Aquele 8º dia a que se referem deve ser um dia que eu passo a dormir tranquilamente e em que ninguém me acorda nem faz barulho ou é um sono mesmo pesado. Resta apenas saber se é um dia de semana que eu ando a perder ou se é um de fim-de-semana. Semana não deve ser porque senão já tinha chumbado por faltas... logo na pré. Fim-de-semana também não pode ser porque a maior parte dos jogos de futebol da liga são nesse período e são todos ou sábado ou domingo, e nunca sobra nenhum para esse dia mistério. Se não é de semana nem de fim-de-semana só pode ser de semi-semana, localizando-se ali entre sexta e sábado porque entre domingo e segunda é impossível visto que acordo com um sono bem nutrido pela manhã, e isso significa que dormi pouco e que não passei o dia mistério anterior todo a roncar. Se se localiza entre sexta e sábado deve possuir o nome de sêxbado ou de sábata.
Porém, este sábata também pode simplesmente não existir porque nunca ouvi falar deste dia da boca de qualquer sincero indivíduo, ou seja, mais ninguém tem conhecimento deste evento, logo passamos todos este dia a dormir ou a fazer algo que não nos lembremos de ter feito, e por isso é como se ele não existisse para ninguém, logo não existe. Muito bem, então os 8 dias continuam desprovidos de sentido.
Voltando ao frustrante início, talvez o uso desta expressão não passe de um vício incontrolável e irracional. Que incompreensível. Analisemos:
De hoje a 8 é quarta (seguindo o raciocínio, no mínimo, falacioso);
De hoje a 7 é terça;
De hoje a 6 é segunda;
De hoje a 5 é domingo
De hoje a 4 é sábado;
De hoje a 3 é sexta;
De hoje a 2 é quinta;
De hoje a 1 é hoje;
De hoje a 0 é ontem;
Julgo haver uma rara espécie de equívoco, um persistente algo que não bate certo. Se daqui a 0 é ontem, então este momento é ontem, porque 0 é o nada e alguma coisa mais zero é esse alguma coisa. Hoje mais zero é hoje. Brilhante, então de hoje a 1 não é hoje porque de hoje a 0 é que é. Penso que já mereço o grandioso “Nobel da descoberta de estupidezes através de raciocínios idiotas derivados de expressões idiotas”.
Eu sei que há muita gente a dizer apenas obviosidades e tem sucesso. Contudo, isto parece demasiada obviosidade para mover erradamente tantas pessoas. Talvez não esteja a olhar para aqueles 8 dias de um maneira tão profunda que lhes descubra o sentido na expressão. Porque podem não significar 24 horas x 8. Entra o devastador factor arredondamento. Este ambíguo período de 8 dias vai desde 7,45 até 8,44.
Mas o que interessa mesmo para o caso são estes 7,45 dias que é o valor mínimo. 0,45 dias são 10,8 horas, ou seja, este subvalorizado “de hoje a 8” só pode ser dito antes de uma certa hora do dia. Se afirmarem às 7 da manhã: “ de hoje a 8 dias é para entregar um trabalho sobre o Álvaro de Campos com uma lista de todas as interjeições que ele utiliza”, o prazo será dali a 1 semana e 10,8 horas, isto é, até às 17,8 horas. O limite de uso deste conjunto de palavras é às 13,199 horas (13 horas e 11,94 minutos) porque o prazo final é mesmo ali às 23,99. Passando isso, o prazo muda para o dia seguinte e aí é removido o sentido de semana. Portanto quem diga: “Ah é para daqui a 8 dias” depois das 13 horas e 11,94 minutos é uma falácia em pessoa a não ser que esteja mesmo a referir-se a uma semana e um dia.
Isto coloca-nos nova questão, porque se o prazo pode ir de 7,45 até 8,44 dias quando dizem de “hoje a 8”, então como saber qual o valor exacto desse intervalo? Não se sabe, por isso joga-se pelo seguro e tenta-se fazer para o mínimo tempo possível contrariando toda a nossa natureza portuguesa de deixar tudo para o fim. Mas para evitarem fazer contas e ver as horas então digam sempre de “hoje a 7” porque ao menos pode ir até 7,99 se considerarmos o arredondamento por defeito às unidades e abrange todo o dia dali a 7.
Depois de analisada esta expressão no seu íntimo eu espero que mude este país para melhor, começando por alterar um pequeno conjunto de pessoas e usufruindo do efeito dominó express para combater esta irracionalidade e falta de paragens para pensar nas coisas realmente importantes da nossa vida.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Os programas sobre futebol são sempre extremamente interessantes
























Gosto do futebol. Esse sensacional desporto, aclamado na boca de uns, cuspido na boca de outros, é um dos mais famosos com uma popularidade tão extrema que ocupa muito tempo da televisão. Contudo, muita gente pensa que o futebol se limita ao jogo. Que ideia tão comum e análoga a outros desportos. Nem pensar nisso, o futebol não se limita ao jogo, há que falar sobre o jogo, antes e depois.
Primeiro há que fazer antevisões. Sem antevisões não existem grandes jogos. Nas vésperas de um Benfica-Porto qualquer canal que se preze tem de possuir um programa ou um excerto no telejornal dedicado à análise deste jogo que ainda não aconteceu. Ora, como ainda não há estatísticas do jogo porque ele ainda está em vias de ocorrer, tem de se recorrer às estatísticas de 1924 e afins, e às disponibilidades nos plantéis.
- Boa tarde, para o clássico da luz há 1 baixa de peso no FCP, Hulk foi suspenso por 10 anos por ter olhado nos olhos de um steward. Além de Hulk há ainda mais 2 baixas, Bruno alves e Cristian Rodriguez, que mandaram as suas habituais bolas de cuspo tão anormalmente grandes para o relvado de treino que tropeçaram nelas e partiram ambas as pernas. Para o lado do Benfica nada a registar, apesar de ter havido também grande tráfego de secreções de glândulas salivares os jogadores do Benfica têm um bom jogo de cintura que lhes permite evitar as auto-armadilhas.
Contudo, esta verificação de disponibilidades é banalidade a mais e é muito pobre em termos de utilidade. Daí ter de se ir ligeiramente mais longe, só um inclinarzito à frente na ousadia do pré-jogo. A antevisão propriamente dita. Como o passatempo preferido dos jornalistas é efectuar estatísticas que também incluem o ano de 1924, estes tratam de apresentá-las nestas antevisões.
- Nos últimos 100 anos o Benfica só ganhou um jogo em que um médio lateral do Porto que jogava mais colado à linha coçou o olho esquerdo aos 35 minutos e 21 segundos na meia lua do meio campo na metade direita do campo inteiro para quem está a observar do banco de suplentes. E o Porto só ganhou 5 jogos no mesmo intervalo de tempo em que a claque lançou um petardo contra a cabeça do árbitro enquanto 30 membros desta arrancavam cadeiras ao pontapé.
Claro que além do prólogo dos jogos, faz ainda mais sentido haver uma análise pós-jogo. Apesar das análises feitas nos telejornais, existem também brilhantes programas apenas dedicados a isso, e posso enumerá-los:
O dia seguinte e O prolongamento à segunda feira, trio de ataque à terça, pontapé de saída à quinta, maisfutebol à sexta à noite e sábado de manhã antes do telejornal, zona mista ao sábado, tempo extra ao domingo.
Como espectador assíduo que sou de todos eles, tenho uma preferência de entre estes 7. O dia seguinte. Este fantástico programa de duas horas semanais que dá segunda-feira na sic notícias das 22 à meia noite parece, de facto, um programa bem sério, que não coloca um único sorriso na cara dos espectadores. Parece que os comentadores vão tratar o futebol e os jogos realizados com óbvio profissionalismo e objectividade. Julgando que isto é só mais um programa em que a palavra "comédia" não cabe nem com a ajuda de uma super máquina com 500 mil toneladas de força, na realidade não está nem perto disso. É galhofa garantida o programa inteiro, com especial destaque para a partir das 23h, que é quando fazem a análise aos lances. Realmente, se observarem o anúncio ao programa na própria sic notícias aperceber-se-ão de que começa da seguinte maneira: “Você é estúpido!”. Só aí obtêm um bom índice de galhofa e que é um bom prólogo do que se passa naquele estúdio segundas à noite.
Todos os 3 comentadores (representantes do Benfica, Sporting e Porto) têm sempre algo a dizer sobre qualquer assunto que envolva futebol, especialmente se for a favor do seu clube. E não se preocupem se forem daltónicos e não conseguirem distinguir as cores das suas gravatas que denunciam o seu clube pois este é facilmente identificável em qualquer lance que eles analisem, mesmo que seja um jogo entre o Fornos Algodres e o Almancilense.
- Vamos analisar o golo do Fornos Algodres ao minuto 37 – informa o jornalista.
O vídeo do golo passa.
- Ah este golo faz-me lembrar aquele belíssimo golo do Aimar que eu vi no estádio da luz - comenta o indíviduo de gravata vermelha.
Enfim, mas são eles que discutem os foras-de-jogo, as faltas, os lances duvidosos de alguns jogos da jornada que passou, sempre dentro de um padrão cómico que passa por um frente a frente entre os comentadores numa luta da selva para coroar o mais imparcial. Analisar faltas é a especialidade da falta de bom senso.
- O quê? Isto é falta? Você tá mas é maluco! – diz o comentador do Benfica enquanto Di Maria esmaga o crânio de Raul Meireles com os pitons.
-Você é cego ou quê? Não vê ali o piton a perfurar o ouvido esquerdo? Olhe. Olhe ali o sangue. Olhe – responde o comentador do Porto enquanto repetem as imagens vezes sem conta, em que se vê claramente o sangue a esgichar.
- Ah, eu não vejo nada. Você vê muito bem.
A troca de insultos parece não afectar o seu subjectivismo, e todos têm a sua oportunidade para o exibirem.
- Ah é falta! – comenta o do Porto aquando de uma queda aparatosa do jogador do seu clube.
- Mas ninguém lhe toca – o comentador do Sporting parece acordar a meio do programa.
A imagem aparece e vê-se claramente de todos os ângulos possíveis e imaginários que o jogador mais próximo está a uma distância, no mínimo, de 5 metros, e mesmo assim o jogador cai gemendo como se não houvesse amanhã.
- Claramente falta, olhe ali ele a gritar.
- Você tá a ouvi-lo gritar?
- Não, mas não vê ele ali a abrir a boca? Olhe ali a boca aberta.
- Ah mas isso não quer dizer que ele tá a gritar.
- Então é o quê? É ele a engolir ar?
Além da beleza do subjectivismo da análise das faltas também nos oferecem o mesmo subjectivismo nos foras de jogo.
- Olhe ali o fora de jogo!- grita o comentador do Porto num lance em que um jogador do Benfica parece estar mais adiantado em relação aos defesas.
-Qual fora de jogo? Ele está atrás da linha. Olhe ali a linha. – aponta para o televisor que releva uma imagem elucidativa com uma linha perfeitamente paralela à linha de fundo provando que não é fora de jogo.
- Mas essa linha está torta!
As discussões são bastantes úteis e contribuem bastante para estimular um pobre cérebro putrefacto. Mas é um excelente programa: além de poderem ver belos golos podem também ver todas as entradas duras e cacetadas que ocorrem em campo e aprender insultos novos com os comentadores.
Os restantes programas, ou são muito semelhantes a este dia seguinte, ou então são programas cujos comentadores utilizam expressões como técnico-táctico, circulo meio campista e em vez de dizerem que um lateral fez um passe para um médio centro dizem: o jogador mais limitado a nível de movimentações para o centro do campo e com funções predominantemente defensivas conseguiu arrastar marcações e criar espaços ganhando vantagem a nível de posicionamento táctico e efectuou a transição ofensiva de modo a promover um desiquilíbrio defensivo no adversário.
Portanto, da próxima vez que pensarem no futebol e num jogo de futebol lembrem-se também das 40 horas diárias que passam na televisão sobre isso e que são momentos extremamente interessantes de se observar.