sábado, 24 de julho de 2010

Não pensem de vez em quando

Agora que me vi a reflectir e a tentar recordar episódios passados, só mesmo para o mês de julho não ficar sem nenhum texto no blog, achei um deveras interessante. Já está a atirar para o antiquado e assaz histórico, foi há longínquos tempos em que eu ainda andava na escola e não tinha nada que fazer... ai bons velhos tempos esses da escola... em que efectuávamos brincadeiras no recreio, em que os testes eram uma treta e podíamos ir para lá só estudados de véspera, em que convivíamos com toda uma panóplia de gente que também era obrigada a estar ali. Portanto, este belo episódio passou-se há dois meses, no dia 18 de Maio, data de um grande evento ocorrido no pavilhão atlântico como todos sabem. Pois é, foi o concerto dos Metallica. Recordo esse dia como se de há 1 hora se tratasse: Mal me aproximei do local do evento, toda uma série de indícios desse mesmo evento começaram a desabrochar e a aparecer, fazendo com que, mesmo que eu não soubesse o que se ia ali passar, soubesse o que se ia ali passar. Meia dúzia de indivíduos embriagados antes da festa já andavam a animar o pessoal, dando esperanças a quem ainda não tinha bilhete, uma vez que os bêbedos podiam eventualmente esquecer-se do que iriam ali fazer e nem sequer entrar no pavilhão. É um facto bastante relevante quando os lugares são em pé (também havia lugares sentados mas duvido plenamente que seria o destino de tamanhos cidadãos exemplares).
Enfim, entrámos e tal, e apreciámos o concerto civilizadamente, como a menor parte das pessoas que lá estavam. Quando pensávamos que o dia tinha acabado e que era altura de ir para casa porque já não ia ocorrer nada de especial e que pudéssemos ficar no local para observar afinal estávamos enganados. Não quanto ao facto do dia ter acabado, porque já passava mesmo da meia-noite e já era 19, mas devido ao facto de já não haver nada mais interessante para ver. É que, de facto iria haver. Quando já havia terminado o espectacular recital e a maior parte dos bons apreciadores de música e arte já se dirigiam todos para suas casas, alguns ainda esperavam à entrada do recinto, nas estradinhas a fingir que há lá nos arredores do pavilhão atlântico. Tal como eu, certos e determinados indivíduos sentaram-se nos blocos de pedra que separam as faixas da estradinha a fingir. Destacava-se um, de seus trinta e tal anos e barriga cheiinha, pelas cantorias que entoava e pela quantidade de cereais fermentados que possuía nas mãos, que dava a perfeita indicação de sobriedade.
Ora, agora é que vou relatar o episódio brilhante:
À medida que o cidadão em perfeito estado se encontrava a cantar sentado no bloco de pedra, vai outro, jovem de seus 18 anos, a passar por ele. Mas quando vai a passar, tem a infelicidade do indivíduo sóbrio estar a cantar uma canção de insultos a uma qualquer progenitora. Uma vez que era ele que ali estava a passar, julgou que os insultos se dirigiam à sua, pelo que armou um bruto escândalo logo ali:
- O quê? Tás a chamar o quê à minha mãe? – perguntou em tons de indignação, enquanto a cantilena continuava.
E nisto adivinhava-se porrada, pelo que o desentendimento funcionou como um íman que atraíu pessoas aos milhões (e polícia também). Continuando, o jovem indignado continuou a refilar, até que o sóbrio se levanta e pára de cantar. E nisto adivinha-se fim de adivinhação de porrada. Mas não, o jovem empurra-o e fá-lo rebolar para a estrada bastante movimentada com carros a passar em ambos os lados a 200 à hora. Sim, se havia melhor momento para andar à bofetada era mesmo o momento em que os insultos haviam cessado. Faz sentido, primeiro não fazer nada e deixar o outro acabar os insultos, depois pôr em prática as agressões físicas necessárias para contrabalançar as verbais todas. Com uma sorte dos diabos por não ser atropelado e não ter passado nenhum carro a 200 (tal e qual como nas últimas 24h em que não verificou qualquer movimento de veículos na movimentada estrada), o rechonchudo levanta-se e tenta ripostar enchendo o pobre jovem com cevada maltada fermentada da superbock. Este ainda levou a mal e tentou dar pontapés e tal mas nada feito devido à quantidade exorbitante de pessoas que já os tentavam separar, incluindo polícia. Depois o jovem ainda foi levado pelos agentes para um local mais longe, porém ainda se conseguiu libertar e dirigir-se ao indivíduo mais forte. Resultado: ainda levou mais porrada da polícia.
Pronto, e foi mais ou menos isto. Foi bom, podia não ter acontecido nada se o jovem tivesse dois dedos de testa e reflectisse um pouco. Mas no momento em que passou pelo bêbedo ele deve ter pensado:
- Ah, este indivíduo não está nada embriagado e não está a cantar cantilenas de insultos às mães há 10 minutos, e conhece a minha mãe perfeitamente, e está a insultá-la! Ai já vais levar!
Pois é, eu também ficava bastante enfurecido se estivesse na mesma situação, é terrível quando uma pessoa conhece a nossa mãe e a insulta, e ainda por cima sóbrio! Ah mas espera, ele não estava sóbrio, nem conhecia a mãe do jovem! Hmm... talvez esteja a tirar conclusões precipitadas e tenha visto a mãe do rapaz aí na rua, enquanto andava a passear e a tenha reconhecido:
- Hmm, aquela é de certeza a mãe de um gajo que eu vou encontrar num concerto de metallica no dia 18, já ali a tender pa 19 porque já vai passar da meia noite, e de certeza que é uma granda sacana esta mãe. Vou insultá-la quando estiver bêbado e encontrar o seu filho!!!!
Parece-me perfeitamente plausível, peço desculpa ao jovem por não ter reflectido o suficiente e não ter avaliado devidamente a situação, realmente é lamentável! Porém, agora que estou do lado do mais novo e do insultado, não percebo porque é que não lhe deu ali um valente sopapo. Quando passou pelo agressor verbal ficou extremamente arreliado pela sua mãe, dando ares de superioridade física e destreza em termos de pancadaria, fiquei a pensar que dominava as artes do kickboxing, jiu jitsu, ou taekwondo, e que iria dar-se ali um massacre brutal com chaves e socos e pontapés de arrepiar a espinha, deixando o adversário a gemer no meio da rua, tentando arranjar fôlego para pedir ajuda a alguém para ligar para o 112, já que os seus dois braços partidos não iriam conseguir efectuar essa tarefa. Não, nada disso, empurrou-o. Deve ser uma nova arte marcial de empurrões, porque até o fez andar mais de 5 metros e o deitou ao chão... hmm... se calhar os 150 quilos ajudaram um bocadinho na inércia.
A mim, toda a situação me pareceu ridícula portanto. Mas não me posso queixar, se todo o mundo estivesse repleto de seres cujas cabeças funcionassem como uma cabeça inteligente e capaz de associar determinados conceitos não poderia fazer este texto ou rir-me e apreciar um belo espectáculo.
Deixo então um apelo: sejam deficientes às vezes, só mesmo a pensar noutros que estejam a assistir e tenham algo para a galhofa e entretenimento futuro.

Sem comentários:

Enviar um comentário