Eu tenho uma coisa a dizer. É verdade. E é
sobre a carris, essa companhia de transportes tão magnificamente competente que
faz tudo tão bem, e chega a horas, e não faz greves à parva, e nem tem
processos de validação de passe totalmente idiotas.
Bom, parece que fui rápido a chegar ao ponto
fulcral: o método de validação à entrada dos passes e dos bilhetes de
transporte por parte da carris. Refiro-me, é claro, àquelas maquininhas que
apitam e tal. Procede-se primeiramente ao encostamento do título de tranporte
ao aparelho, pelo que ele responde com um apito de aprovação “PI!”, ou com um
apito de grande repreendimento, semelhante a uma andorinha com prisão de ventre
“PIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!”. Penso que se trata de um método
extremamente eficaz, tirando as vezes em que não é extremamente eficaz. Vou
fazer agora um levantamento das vezes em que não é eficaz... (pensando
fervorosamente)...já está: sempre.
E passo a explicar o porquê desta ineficiência
absurda. A grande razão por detrás disto é o evidente domínio de seres
denominados de “velhas” nos veículos da Carris. Ora, estes seres adoram estas
máquinas, que por vezes até parece que têm uma espécie de relação amor-ódio com
estas. Para além de sempre se apresentarem com uma mala de 3 metros cúbicos de
volume (que é muito, para quem não está a par de unidades SI) e passarem-na no
tal aparelho, que às vezes se assemelha à tal andorinha que tem prisão de
ventre, na esperança que o passe esteja no lado da mala que faz contacto com o
validador. Quando corre mal, dá vermelho, mas elas são persistentes, continuam
a tentar, balbuciando alguns impropérios velhais(ver abaixo) para o lado. E dá
vermelho outra vez. Porém não há problema, elas tentam mais uma vez. À terceira
dá verde, fantástico. Resultado deste acontecimento que dura talvez mais de 10
segundos: Uma fila de pessoas na porta de entrada e um motorista a ver se ainda
consegue fechar as mesmas e arrancar. E mais um facto interessante é que, de
facto, o motorista não controla quem está ilegal, pois isso é trabalho dos
chamados “picas”. Até o motorista assim o pensará.
Então recapitulando, porque é que é que foi
necessário esta senhora passar o seu passe 3 vezes na máquina do inferno? Pura
diversão.
Gosto da sua insistência contudo. Vêem que
estão a bloquear a entrada e a formar fila atrás, mas lá continuam firmes e
seguras, sem medo, valentes. Têm mesmo de passar o seu passe, não vá ela ficar
de consciência intranquila por não ter validado. Pode ser terrível, ficarem a
remoer nas suas cabeças:
- Ai
meu Deus que eu não validei, será que Deus me castigará com mais uma hérnia? Ou
desta vez serão varizes na perna esquerda? Ou agravamento das varizes na
direita? Ou será pedra nos rins? Ai que eu devia ter passado o passe...
Parecendo que não, desperdiça-se aqui tempo,
por mim estimado na gama dos 10 segundos. Estes 10 segundos repetidos em 10
paragens entre outros imprevistos, já dá mais de 1 minuto, suficiente para
quebrar o horário mencionado nos horários previstos nas paragens. No fundo, é
totalmente inútil validar o passe. Na verdade nem sei porque lhe chamam “validar”,
porque válido já ele está porque o paguei, não porque o passei numa maquininha
idiota sempre que entro num veículo.
Mas ainda me falta referir um categoria de velhas
validadoras. Aquelas, que vão para o seu lugar com um ar apressado, revolvem a
sua mala e a sua carteira na busca do documento sagrado, e voltam à entrada, só
para cumprirem o dever de cliente da Carris de validadora orgulhosa. É caso
para dizer, mais valia estar sentada, porque as vantagens que essa subida no terreno
lhe deram são iguais ao número de velhas que perdem as tardes da Júlia: zero!
E quando os revisores entram para verificar se
toda a gente se encontra legal? Não vai acusar que eu sou um ilegal porque não
passei no validador. Vai acusar que eu sou legal, porque eu paguei para ter um
título válido por 30 dias. Está para chegar o dia em que um revisor se dirija a
mim e me obrigue a pagar uma multa, porque apesar de ter pago o passe, tive a pouca
decência de não validar à entrada! Realmente um escandâlo! Estes marotos que
nem validam à entrada! Pagar 40€ por um passe não me diz nada, nem é
suficiente, há que efectuar o encosto à máquina!
Impropérios velhais – todo aquele impropério,
que na realidade não fere a susceptibilidade de ninguém pois não possui nenhuma
palavra grosseira, mas faz referências muitas vezes a uma tal “nossa Senhora” e
outras referências religiosas, misturadas com expressões dos anos 70 (exemplo:
Valha-me nossa Senhora, isto hoje está bera, xiça!)
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